Folha de S. Paulo


Lula homenageia Sarney e diz que ele foi tão importante quanto Ulysses para a Constituição

Em ato de comemoração aos 25 anos da Constituição de 1988, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez nesta terça-feira (29) uma homenagem pública ao também ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), dizendo que o peemedebista foi tão importante quanto Ulysses Guimarães (1916-1992) no processo de formulação da atual Carta Magna brasileira. Lula também criticou aqueles que "avacalham" a política, como a imprensa, e mandou recado a ex-senadora Marina Silva --que fechou aliança com o provável adversário de Dilma em 2014, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).

No período da montagem e promulgação da Constituição, Sarney era o presidente da República, Ulysses o presidente da Câmara dos Deputados e Lula um dos constituintes pelo PT, na época oposição ao governo.

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"Eu queria fazer reconhecimento de público. Ulysses Guimarães certamente foi o símbolo dessa Constituinte, coordenou com maestria numa situação muito difícil, em que o PMDB tinha 23 governadores e 306 constituintes, e que sozinho podia fazer o que queria. Eu tenho consciência que o senhor não teve facilidade, muito menos moleza. Quero colocar a sua presença na Presidência no período da Constituinte em igualdade de condições com o companheiro Ulysses Guimarães", discursou Lula no plenário do Senado.

Segundo o petista, o principal mérito de Sarney foi permitir que os constituintes fizessem livremente críticas a ele.

"Em nenhum momento, mesmo quando era afrontado no Congresso, o senhor levantou um único dedo, uma só palavra para criar qualquer dificuldades aos trabalhos da Constituinte, que certamente foi o trabalho mais extraordinário que o Congresso já viveu. (...) Por isso presidente Sarney, já que Ulysses não está entre nós, eu quero dizer claramente que o senhor merece a minha homenagem como comportamento digno como presidente da República, de permitir que nós disséssemos aqui dentro todos os desaforos que achávamos que tínhamos direito de falar contra o senhor", acrescentou Lula, se dirigindo a Sarney, que falara antes dele.

Apesar de o PT ter feito oposição ao governo Sarney e até hoje integrantes da legenda atacarem sua atuação política, Lula e o maranhense patrocinaram uma aliança que perdura até hoje após o petista chegar ao poder, em 2003.

Em sua fala, Lula também exaltou as políticas sociais do governo Dilma Rousseff e voltou a criticar aqueles que negam a política, dizendo que se os jovens e a imprensa tivessem lido biografias de presidentes como Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek eles saberiam que a "avacalhação" de políticos e da política resulta em ditadura.

"Na história desse país, se a juventude lesse a biografia do Getúlio, Juscelino e outras biografias, possivelmente as pessoas não iriam desprezar a política e muito menos a imprensa não ia avacalhar a política como avacalha hoje. (...) O que aparece quando se nega a política, é uma pessoa praticando ditadura, praticando políticas que não condizem com aquilo que nós acreditamos", afirmou.

As referências que Lula têm feito sobre a negação da política têm como alvo os protestos de rua contrário aos partidos políticos e o discurso defendido pela ex-senadora Marina Silva, para quem é preciso acabar com o atual modo de se fazer política no país.

Em sua fala, Lula não fez menção à sua declaração de 1993, cinco anos após a promulgação da Constituição, segundo a qual havia "300 picaretas" no Congresso. Mas reiterou que o PT, na época, não votou contra a aprovação da Constituição --mas apresentou uma proposta que, se estivesse em vigor, ele próprio não teria conseguido governar.

"Queria lembrar os companheiros que muitas vezes dizem que o PT não assinou a Constituição. Uma mentira contada muitas vezes ganha um fundo de verdade. Tínhamos só 16 deputados, mas agíamos como se tivéssemos 460. Chegamos aqui com projeto de Constituição e de regimento interno. Se a nossa tivesse sido aprovada, certamente eu teria tido algum tipo de dificuldades para governar no país."

MEDALHA

Lula recebeu a medalha Ulysses Guimarães, criada pelo Senado para homenagear personalidades políticas que tiveram participação na Assembleia Constituinte. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) também receberia a medalha, mas não participou do evento por questões de saúde --o tucano, segundo o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), está com uma diverticulite.

Também participaram do ato no Senado o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), Renan e o presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e outros políticos que participaram da Constituinte. O hino nacional foi cantado por Fafá de Belém, tratada como "musa" da campanha das Diretas-Já.

Convidado, o ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992) também não compareceu.


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