Folha de S. Paulo


Análise: Plataforma conjunta de PSB e Rede não será nada fácil

Sob o comando duplo dos neoaliados Eduardo Campos e Marina Silva, dirigentes do PSB e da Rede reuniram-se ontem para começar a montar um programa de governo conjunto. É possível?

Em sua fala, Campos disse que o agronegócio precisa ser próximo da sustentabilidade, que não pode haver preconceito "com os que vivem produzem no campo" etc.

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Dito assim, ninguém discorda. Afinal, somos todos a favor do progresso, do meio ambiente, da vida, do amor... Mas e nas questões objetivas, é possível?

Eis um caso objetivo. Num post publicado ainda ontem em seu blog, o jornalista Paulo Moreira Leite lembrou que, em 2010, o economista Eduardo Giannetti da Fonseca propôs a seguinte solução para redução da emissão de gases prejudiciais à natureza por parte do gado brasileiro: "o preço da carne vai ter de ser muito caro, o leite terá de ficar mais caro".

Giannetti surge agora como um dos principais conselheiros de Marina, a nova filiada do PSB. O mesmo PSB que, naquele mesmo 2010, foi um dos maiores beneficiários dos R$ 73,5 milhões doados pela JBS, a dona da agora famosa marca Friboi. Pegou? Esse tipo de assunto será francamente discutido entre dirigentes do PSB e da Rede?

Para não começar falando em dinheiro, os dois partidos poderiam então buscar o "consenso programático" a partir de uma visita aos seus respectivos manifestos e programas originais, textos disponíveis em seus sites.

Um passeio rápido por esses documentos mostra que as prioridades, as ênfases e as orientações gerais das duas agremiações parecem, no mínimo, bastante distantes.

Enquanto a Rede diz que uma de suas "principais bandeiras" é a "diversificação da matriz energética em busca de uma matriz limpa e segura", o PSB mira no oposto. Quer petróleo e hidrelétrica.

No capítulo "Reivindicações imediatas", os socialistas fazem a seguinte formulação: "Elaboração e execução de um plano destinado a colocar o potencial de energia hidráulica e de combustíveis a serviço do desenvolvimento industrial".

Se os partidos realmente levam seus textos e seus conselheiros a sério, muita coisa terá que ser revista. Não tende a ser uma discussão fácil.


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