Folha de S. Paulo


Se alguém pagou propina, ele que responda à Justiça, diz ex-presidente da Alstom

O ex-presidente da Alstom José Luiz Alquéres disse em entrevista à Folha que nunca pagou comissões para obter contratos em São Paulo durante sua gestão, entre 2000 e 2006, quando o Estado foi administrado pelo PSDB.

O executivo, que também presidiu a Light, disse que as divisões que negociaram esses contratos tinham autonomia, mas que práticas como o pagamento de propina "sempre foram proibidas".

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"Se a empresa do Arthur [Teixeira] fez [os pagamentos], ele que arque com as consequências perante a Justiça", disse Alquéres.

Leo Pinheiro -19.set.12/Valor
O ex-presidente da Alstom José Luiz Alquéres, que dirigiu a empresa entre 2000 e 2006
O ex-presidente da Alstom José Luiz Alquéres, que dirigiu a empresa entre 2000 e 2006

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Leia trechos da entrevista que Alquéres concedeu por telefone, a partir de Munique, na Alemanha, onde estava ontem para compromissos familiares.

Folha - O sr. se recorda do e-mail de 2005 em que recomenda a contratação de um lobista para obter negócios para a Alstom em São Paulo?
José Luiz Alqueres - Não me lembro. O que acontecia é que a divisão de transporte só tinha conseguido 11% das metas no oitavo mês daquele ano. O objetivo do e-mail era avisar a Alstom na França que havia licitações do governo de São Paulo e que, se quiséssemos ganhar, teríamos que nos empenhar e, entre outras coisas, contratar um consultor.

Por que era necessário o consultor? O Ministério Público da Suíça diz que consultorias serviam para pagar propina.
O consultor tinha um grande conhecimento de mercado e sabia quem poderia fornecer rodas de trens pelo menor preço ou o melhor preço para um truck [sistema rodante]. Ele era importante para montar as parcerias. Vendemos mil carros para [o metrô de] Nova York sem precisar de consultoria porque eles compraram só a carcaça. Aqui vendíamos o trem completo, que era fabricado em São Paulo, e precisávamos de produtos de outras empresas.

Arthur Teixeira, o consultor contratado pela Alstom na época, ficou conhecido após as investigações iniciadas na Suíça como o personagem que pagava propina simulando a prestação de serviços de consultoria.
Você disse bem: isso ficou conhecido após as investigações. Eu nunca soube disso.

O sr. se recorda de ter recomendado o pagamento de comissões para obter contratos?
Isso nunca ocorreu na minha gestão. Eu fui o presidente da Alstom que elevou o nível dos padrões éticos para os contratos.

Mas o Ministério Público da Suíça encontrou repasses de empresas de Teixeira para funcionários de administrações do PSDB.
Eu nunca soube disso. Todos os contratos da Alstom têm cláusulas que proíbem o pagamento de comissões.

O sr. acha possível que tenha havido pagamento de propina sem o seu conhecimento?
Eu presidia a holding da Alstom. Abaixo ficavam a Alstom Energia e a Alstom Transporte. Eu não tinha poder executivo sobre essas empresas. Não acho possível que tenham praticado qualquer ato impróprio, aético, ou corrupção. Mesmo não cabendo ingerência da holding nas operações das unidades de negócio, essas práticas sempre foram proibidas.

Pode ser que esses desvios tenham ocorrido quando o sr. era presidente?
Eu repudio qualquer insinuação sobre pagamentos feitos na minha gestão. Se a empresa do Arthur [Teixeira] fez [os pagamentos], ele que arque com as consequências perante a Justiça. Não houve nada de ilícito durante a minha presidência.


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