Folha de S. Paulo


Em julgamento, fazendeiro admite tiros contra sem-terra, mas nega acusações

O fazendeiro Adriano Chafik, acusado de ser o mandante da chacina de Felisburgo (MG), em 2004, admitiu nesta quinta-feira (10), em depoimento durante o julgamento do caso em Belo Horizonte, que atirou contra um sem-terra com a pistola que levava consigo. Mesmo assim, Chafik negou todas as acusações que pesam contra ele.

O fazendeiro é acusado de ser o mandante da chacina que deixou cinco sem-terra mortos e outros 12 feridos, entre elas uma criança, na cidade do Vale do Jequitinhonha.

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Além de contratar 14 homens para atirar e incendiar o acampamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), Chafik também é acusado de ter participado da ação criminosa.

"Eu fui ameaçado e dei dois tiros, um para o chão e o outro em direção ao rapaz, mas não sei se acertei", disse o fazendeiro, que alegou que passou a andar armado porque vinha sendo ameaçado pelos sem-terra.

Chafik também negou que tenha ido até o acampamento do MST com o propósito de atacar os sem-terra. Ele disse que estava no carro com mais três homens e os outros a cavalo porque foram "recolher gado".

Paulo Peixoto/Folhapress
Militantes do MST na área externa do fórum Lafayette, em Belo Horizonte, onde o fazendeiro acusado de ser o mandante da chacina de Felisburgo (MG) é julgado
Militantes do MST na área externa do fórum Lafayette, onde o fazendeiro acusado de ser o mandante de chacina é julgado

O fazendeiro disse que o grupo foi atacado pelos sem-terra, tendo ele sido ferido no braço por um golpe de foice. Por isso, disse, ele deu os dois tiros, deixando o local sem saber o que ocorreu depois.

Chafik negou pontos de vários depoimentos dados na fase de instrução do processo por homens que trabalhavam para ele. Nesses depoimentos, ele foi apontado como a pessoa que distribuiu as armas aos homens e que entregou ainda a eles garrafas contendo gasolina --o acampamento foi incendiado após o ataque.

O fazendeiro chegou a dizer que eram os sem-terra que estavam armados e que os próprios acampados podem ter atirado uns contra os outros. Mas quando indagado sobre o porquê de nenhum dos homens por ele contratados ter apresentado ferimentos de bala, disse que não saberia explicar.

O fazendeiro e o capataz Washington Agostinho da Silva são os primeiros réus a serem julgados pela chacina. Outras 12 pessoas também são acusadas de participação nos crimes.


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