Folha de S. Paulo


Viúva do psiquiatra Amílcar Lobo se desculpa aos que foram torturados em nome do marido

A viúva do psiquiatra Amílcar Lobo, Maria Helena Gomes de Souza, prestou depoimento nesta quarta-feira (2) em sessão da Comissão da Verdade do Rio, onde pediu desculpas aos torturados do regime militar. Maria Helena disse que estava estava ali em nome do marido que, antes de morrer, teria explicitado a vontade de pedia perdão.

No período em que trabalhou para o Exército brasileiro, Lobo foi acusado de ter realizado exames em presos políticos para determinar se eles tinham ou não condições de seguir em sessões de tortura. O médico morreu em 1997, aos 58 anos.

Maria Helena falou sobre a colaboração de seu marido com os militares.

"Meu marido nunca participou da tortura, mas não vim aqui para inocentá-lo. O erro dele foi a omissão. Havia uma sensação de impunidade e os militares achavam que estavam fazendo o melhor para o Brasil, que estariam salvando o país, mesmo que, para isso, estivessem torturando pessoas, o que acho um absurdo", disse Maria Helena.

A viúva de Lobo também mencionou a morte de Rubens Paiva e a relação de seu marido com Inês Etienne, a única a sair viva da Casa da Morte, um centro clandestino de torturas instalado na cidade de Petrópolis, na região serrana do Rio.

"Amílcar recebeu a notícia de que um preso de alta patente, 'quente', no linguajar usado por eles, precisava de atendimento médico. Foi recebido por um major, cujo nome não me recordo, que o levou até Rubens Paiva. Este estava nu, como era costume, e Amílcar o examinou. O preso se queixava de fortes dores. Conseguiu dizer, por três vezes, o seu nome. No dia seguinte, Amílcar soube, pelo tenente Avolio, que Rubens Paiva tinha morrido", relatou Maria Helena.

Acusados de participar das sessões de tortura, os militares Dulene Garcez e Luiz Mário Correia Lima também compareceram à audiência da Comissão de Verdade, mas optaram por permanecer em silêncio.


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