Folha de S. Paulo


PM faz cerco à Câmara do Rio e impede passagem de carros e pedestres

Centenas de policiais militares montam um cerco à Câmara Municipal do Rio, no centro da capital fluminense, desde as 4h desta terça-feira (1°). A medida é para evitar a circulação de carros e pedestres já que está prevista para hoje a votação do novo plano de cargos e salários dos professores municipais.

Segundo a PM, o reforço policial foi um pedido do presidente da Casa, Jorge Felipe (PMDB), para evitar invasão e cancelamento da sessão no plenário. A votação do plano de carreira dos professores está prevista para as 16h de hoje. Por volta das 10h30, cerca de cem manifestantes protestavam em frente à Câmara.

Desde cedo, trabalhadores se deparam com grades, dezenas de carros da polícia e cães farejadores bloqueiam as ruas do entorno da Câmara como a Evaristo da Veiga, a Senador Dantas e vielas próximas da praça da Cinelândia. Caminhos alternativos --por dentro de prédio e becos-- são indicados por policiais.

Tânia Rêgo/Divulgação/ABr
Prédio da Câmara Municipal no Rio é cercado por grades impedindo a passagem de carros e pedestres
Manifestantes continuam acampados na lateral da Câmara; policiamento é reforçado para garantir sessão no plenário

"Um horror para o trabalhador. A imagem é de ditadura. Estamos presos, encurralados. Perdemos o direito de ir e vir", lamentou a digitadora Vanessa Santos, 31, à Folha, enquanto desviava o caminho de rotina por um beco, que fazia ligação com os fundos de um prédio no outro quarteirão, ao lado do Theatro Municipal.

Um extenso gradil foi instalado pela polícia de madrugada no entorno da Câmara. Blitzes abordam pessoas que querem passar pelas ruas da região. O esquema de segurança causa problemas no trânsito, principalmente na Lapa. Depois da noite de confronto entre ativistas e PMs, professores seguem acampados na lateral da Casa.

"Esse aparato de segura foi montado pra gente? Queria entender o perigo que a nossa categoria causa à sociedade", disse a professora de Artes Daniela Araújo, 42, da rede municipal.

Sem saber como passar para a rua Evaristo da Veiga, a balconista se apoiou junto as duas filhas, de 3 e 4 anos, ao gradil que a impedia de passar. "Quero pegar os remédios da minha filha na farmácia do SUS (Sistema Único de Saúde) que fica aí do outro lado, o que eu faço?", perguntou aos gritos para uma mulher que passava dentro do cerco, mas acabou sendo orientada pela reportagem a dar a volta por um caminho alternativo num prédio lateral.

A Folha procurou o presidente da Câmara, mas não foi atendida.

DEPREDAÇÃO

Ontem, um grupo de manifestantes que estava na Cinelândia, no centro do Rio, deixou a praça em direção à 5ª Delegacia de Polícia, na Lapa, zona boêmia da cidade.

No caminho, depredaram a fachada de vidro do Edifício Serrador, onde funciona a sede do grupo EBX, do empresário Eike Batista, que passa por uma grave crise financeira. Além disso, destruíram um toldo da lanchonete McDonald's e jogaram pedras em um ônibus.

"BLACK BLOCS"

No fim da tarde de ontem, "black blocs" se juntaram aos professores e deram voltas no quarteirão da Cinelândia, o que causou o fechamento de ruas e deu um nó no trânsito. Alguns deles estavam com o rosto encoberto, apesar da nova lei que proíbe o uso de máscaras no Rio.

Uma briga entre policiais militares e manifestantes "black blocs" terminou com uma pessoa com o pé quebrado, dois manifestantes detidos e uma bomba atirada dentro de uma viatura policial na avenida Rio Branco, centro do Rio. Manifestantes alegam que foi uma bomba de efeito moral de um policial que teria sido acionada por engano. Alguns, inclusive, gritaram "burro" para um grupo de PMs logo após o ocorrido.

Outros manifestantes, contudo, afirmam que foi uma bomba do tipo "cabeção de nego", atirada pelos que estavam protestando. Atônitos, os policiais apenas tiraram a viatura do local e não buscaram identificar responsáveis.

GREVES

Tanto a categoria dos professores municipais quanto a dos professores estaduais estão em greve desde agosto. Eles são contra o plano de cargos e salários proposto pelo prefeito Eduardo Paes (PMDB). Ontem, Paes realizou uma teleconferência para responder dúvidas dos professores.

Paes fez críticas ao sindicato do professores, Sepe (Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação), afirmando que continua aberto ao diálogo e que o plano é favorável à categoria, o que é contestado pelos professores.

Editoria de Arte/Folhapress

Endereço da página:

Links no texto: