Folha de S. Paulo


Professores da rede municipal do Rio decidem manter greve e ocupação da Câmara

Os professores da rede de ensino municipal do Rio decidiram manter a greve, após assembleia realizada nesta sexta-feira (27). O grupo ocupa a Câmara Municipal do Rio desde a tarde de ontem. A paralisação da categoria acontece há mais de um mês, desde o dia 8 de agosto.

"Permaneceremos aqui [Câmara do Rio] enquanto esse projeto [do governo] não for retirado. Esse plano não valoriza os funcionários. O prefeito Eduardo Paes (PMDB) e a secretária de Educação Cláudia Costin concluíram ele sem sequer ouvir a categoria", lamentou uma das coordenadoras do Sepe (Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação), à imprensa, no plenário da Câmara.

A direção do Sepe informou que uma comissão de professores irá até a sede da prefeitura ainda hoje para tentar marcar uma audiência com Eduardo Paes. Por volta das 13h, cerca de 600 manifestantes bloqueavam as ruas Evaristo da Veiga e Alcindo Guanabara, entre o restaurante Amarelinho e a Câmara Municipal.

No início da tarde, ao menos 70 docentes permaneciam no plenário da Casa. A Folha tentou contato com a prefeitura, mas não obteve retorno.

Mais cedo, a direção da Câmara cancelou as atividades desta sexta. Estavam programadas uma audiência pública para discutir remoções e uma solenidade, não divulgada. A presidência da Câmara divulgará uma nota anunciado quais as providências serão tomadas em relação à ocupação do plenário.

"Recebemos uma denúncia de que o governador Sérgio Cabral deve mandar a tropa da PM tirar os educadores da Câmara à força. Isso não pode acontecer já que nosso protesto é pacífico", disse uma das manifestantes.

NOITE NO PLENÁRIO

Cerca de 100 professores da rede municipal de ensino passaram a noite no plenário da Câmara Municipal do Rio, no centro da cidade, em protesto por reajustes no plano de cargos e salários da categoria. Outros 30 docentes dormiram em cinco barracas na lateral da Casa.

Professora de história da escola Rui Barbosa, em Bonsucesso, zona norte, Regina Mesquita, 32, disse que sentiu medo de dormir na rua, mas a vontade de lutar por melhorias na carreira pesou na hora de seguir a opção. Ela e outros 29 docentes viraram a noite em barracas na rua Alcindo Guanabara, na lateral da Câmara, no centro.

"Deixei o meu doutorado de lado para ficar aqui. Só espero que isso se resolva e valorizem a minha formação", disse a professora, que termina doutorado em história na USP.

Regina Mesquita lamenta que o governo só aumente o salário dos professores que concluem pós-graduação na área de educação e ignorem os docentes que se especializam em matérias como matemática, história. "O meu doutorado, que é na melhor universidade do país, não vale porque não é em educação", diz.

Ao menos dez PMs fazem a segurança no local. Cartazes foram colados e pendurados na Câmara com os dizeres: 'Educação caminha junto com o diálogo. Queremos respeito'. 'Eduardo Paes, minha escola tem uma vaga para o seu filho numa sala com mais de 50 alunos', diz.

Por volta das 9h, a segurança da Casa impediu a entrada de jornalistas. Houve discussão e apenas 40 minutos depois, a passagem foi liberada.

INVASÃO

Na tarde de ontem, cerca de 200 professores invadiram a Câmara do Rio e interromperam a sessão de votação do plano de carreira da categoria. Segundo a assessoria da Casa, a sessão foi remarcada para a próxima terça-feira, às 14h.

Cerca de 600 docentes cercaram a Casa com cartazes e gritaram palavras de ordem como 'a sessão acabou, a sessão acabou'. Dezenas de policiais militares fizeram um cordão de proteção no entorno do Palácio Pedro Ernesto.

Um policial passou mal e foi socorrido quando uma bomba de gás lacrimogêneo vazou acidentalmente. Não houve registro de confusão até o fim da noite.

"Exigimos que a prefeitura retire esse plano de carreira, que seria votado hoje (ontem), e chame a categoria e o sindicato para debater e colocar emendas nessa sessão", disse o coordenador do Sepe (Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação) Elson Paiva, à Folha.

Os vereadores que integram a bancada da oposição tentaram negociar uma forma de retirada pacífica dos professores que ocupam o plenário, mas não adiantou.

Entre os parlamentares estavam Renato Cinco (Psol), Jefferson Moura (Psol), Leonel Brizola Neto (PDT), o presidente interino Luiz Carlos Ramos (PSDC), que foi obrigado a interromper a sessão, e o presidente Jorge Felippe (PMDB), que chegou após o tumulto no plenário.

Não há informações sobre a previsão de saída dos professores da Casa.

GREVES

Tanto a categoria dos professores municipais quanto a dos professores estaduais estão em greve desde agosto. Os professores estaduais estão acampados em frente à Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) desde o dia 12 deste mês.

Editoria de Arte/Folhapress

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