Folha de S. Paulo


Funcionários do Senado terão que devolver salários recebidos acima do teto

Um grupo de 464 servidores do Senado terá que devolver recursos recebidos nos últimos cinco anos que estavam acima do teto constitucional de salário. O teto atualmente é de R$ 26,7 mil.

A decisão foi tomada nesta quarta-feira (25) pelo TCU (Tribunal de Contas da União), que deu prazo de 30 dias para que o problema seja solucionado. O presidente do órgão calcula que os valores pagos a mais no Senado somariam cerca de R$ 250 milhões (valor não corrigido).

Ainda cabe recurso. Caso o Senado acate a decisão, é a direção do parlamento que decidirá como os valores serão devolvidos.

A auditoria de supersalários no Congresso começou em 2009. Naquela época, foi apurado que cerca de R$ 150 milhões e R$ 500 milhões excedentes eram pagos todo ano a servidores pelo Senado e pela Câmara, respectivamente. O valor a mais corresponde a verbas e horas extras indevidas, além de quantias acima do teto constitucional que não foram cortadas. Isso representava 10% e 17% da folha salarial dessas instituições.

Nenhum dos dois órgãos regularizou totalmente a situação até hoje, segundo o presidente do TCU, Augusto Nardes. Ele disse que levará amanhã a cópia da decisão do Tribunal ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Nardes acredita que, devido ao clima que surgiu das ruas, os dois órgãos vão cumprir desta vez a decisão de reduzir os supersalários.

"O Brasil precisava acabar com os supersalários. Não podemos continuar com salários diferenciados, com pessoas ganhando salários de marajás e pessoas ganhando salário mínimo. Acho que o Senado e a Câmara estão entendendo que é hora de dar um basta pelas necessidades que temos", afirmou Nardes, dizendo que os presidentes das duas casas deverão tomar uma decisão conjunta sobre a limitação do teto. "Estamos normatizando esta questão do teto constitucional que vinha se alongando desde a Constituição de 1988".

Pelos cálculos de Nardes, a economia nos próximos 5 anos seria de, no mínimo, R$ 3,3 bilhões com o não pagamento dos supersalários, caso a decisão venha a ser cumprida no legislativo.

CONTRADIÇÃO

Há cerca um mês, o mesmo TCU votou a auditoria dos supersalários da Câmara dos Deputados. Naquela ocasião, os ministros decidiram não pedir a devolução de recursos pagos a mais aos servidores, ao contrários da resolução desta quarta.

A tese de não devolução do dinheiro era defendida pelo ministro Raimundo Carreiro, que foi servidor do Senado. Ele teve apoio nesta quarta de apenas mais um ministro, Valmir Campello, ex-senador. Além de Nardes, outros quatro integrantes da Corte votaram com a tese do ministro Walton Alencar, que pedia a devolução: Benjamim Zymler, Augusto Shermann e André Luiz. O ministro José Jorge, também ex-senador, se declarou impedido.

Segundo Nardes, a mudança aconteceu porque o quorum foi diferente da sessão que decidiu não cobrar da Câmara os valores pagos a mais. O presidente do órgão afirma que essa contradição poderá ser revista no recurso.

Além de pedir a devolução do dinheiro, Alencar também determinou punições a ex-diretores do Senado que foram afastados da casa na época da apuração devido a suspeitas de corrupção, entre eles Agaciel Maia, que hoje é deputado distrital no Distrito Federal. Um outro grupo de servidores também terá que devolver valores pagos a mais pelo órgão por horas extras, gratificações indevidas e horas não trabalhadas. Esses valores não foram divulgados.


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