Folha de S. Paulo


Deputado diz que investigação sobre seu partido foi encomendada pelo Planalto

O deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) disse nesta terça-feira (24) que o parecer do Ministério Público Eleitoral que pede investigação sobre o processo de criação do Solidariedade foi "encomendado" pelo Palácio do Planalto.

Presidente da Força Sindical, Paulo Pereira é o principal artífice da montagem no novo partido, que deve ter o seu caso julgado na noite desta terça-feira pelo Tribunal Superior Eleitoral.

A sigla tende a atuar na órbita do presidenciável Aécio Neves (PSDB), um dos prováveis adversários de Dilma Rousseff em 2014.

Fraude para criar partido usa até nome de chefe de cartório

"Isso é estranho. Todo mundo sabe quem é esse procurador que eu estou falando. Ou seja, um cara encomendado pelo Palácio do Planalto. Esse procurador está bem encomendado. Só isso explica. O parecer dele foi encomendado", afirmou o deputado após visitar o ministro do TSE José Dias Toffoli para apresentar os argumentos para a criação da sigla.

Claudia Rolli - 11.jul.13/Folhapress
Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), em protesto na zona sul de São Paulo
Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), em protesto na zona sul de São Paulo

O procurador a que Paulo Pereira se refere é Eugênio Aragão, vice-procurador-geral Eleitoral, que assumiu recentemente o cargo e que pediu investigação da PF sobre as suspeitas de que assinaturas de apoio à legenda tenham sido fraudadas.

Antes de Aragão assumir a função, o Ministério Público havia dado pareceres favoráveis à criação da sigla de Paulo Pereira, posição que o novo procurador não ratificou.

Por meio da assessoria de imprensa, Aragão disse que foi nomeado pelo novo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e que nunca falou com o Palácio do Planalto sobre o caso do Solidariedade.

Ainda segundo o procurador, o parecer foi cauteloso no sentido de não contrariar os anteriores feitos pela Procuradoria e que apenas enfatizou que é necessário mais investigação sobre as assinaturas. O Palácio do Planalto disse que não iria comentar as declarações do deputado.

Nos bastidores, integrantes da Rede Sustentabilidade, o partido que a ex-ministra Marina Silva tenta montar para concorrer ao Palácio do Planalto, também dizem ver sinais de que o Palácio do Planalto atua reservadamente para inviabilizar a sigla.

Eles apontam como indícios, entretanto, apenas a alta rejeição das assinaturas apresentadas em cidades onde o PT tem influência, além da nomeação de Aragão, que recentemente chegou a figurar na lista de cotados para ser indicado pela presidente Dilma Rousseff para uma cadeira no Supremo Tribunal Federal.

SUSPEITAS

Entre as suspeitas que pesam contra o Solidariedade está a acusação de que o partido incluiu como apoiadores da sigla, de forma fraudulenta, integrantes do sindicato dos servidores do Poder Legislativo federal.

A assinatura de Gladys Pessoa de Vasconcelos Buarque, mulher do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), é uma das 503 mil certificadas e entregues ao TSE. Ocorre que o senador disse que a mulher nunca assinou papel em apoio à criação do partido.

"Pegaram o nome e a assinatura dela em alguma lista, assim como devem ter pegado o nome de muitas outras pessoas", afirmou.

Quem faz a acusação é Magno Antonio Correia de Mello, ex-diretor do Sindilegis (Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo Federal). Magno é desafeto de Paulinho.

O nome de Fernando Saboya, secretário-geral-adjunto da Mesa da Câmara dos Deputados, também teria sido incluído de forma fraudulenta na lista dos apoiadores do Solidariedade. Saboya nega ter assinado ficha de apoio: "Jamais, você está brincando. Ultimamente não tenho apoiado nem eleição de síndico."

Para que seja criado, o partido político tem que reunir, por lei, ao menos 492 mil assinaturas de apoio em todo o país. O Solidariedade diz ter entregue ao TSE mais de 500 mil nomes.

Paulo Pereira rebate as acusações de fraude e diz que eventuais inconsistências que existam se referem a assinaturas que foram colhidas no decorrer do processo, mas que acabaram sendo descartadas pelos próprios cartórios eleitorais, que são os responsáveis por validar os nomes apresentados pelo partido.

O partido de Paulo Pereira negocia o ingresso de cerca de 30 deputados federais na legenda, mas para participar das eleições de 2014, precisa ser criado até o dia 5.


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