Folha de S. Paulo


Previdência vai exonerar servidor suspeito de participar de esquema com fundos de pensão

O Ministério da Previdência decidiu exonerar um dos coordenadores do departamento dos regimes de previdência no serviço público investigado pela Polícia Federal por participar do esquema de lavagem de dinheiro e desvio de recursos de fundos de pensão municipais.

A exoneração de Gustavo Alberto Starling Soares Filho, 38, já foi assinada e está prevista para ser publicada na segunda-feira (23), segundo a Previdência.

Gustavo Starling é o segundo a perder o cargo de confiança no governo federal desde que a PF deflagrou a operação Miqueias, na quinta-feira (19) para apurar esquema que movimentou R$ 300 milhões em 18 meses.

As investigações encontraram suspeitos em diferentes órgãos públicos, até mesmo no Palácio do Planalto.

Auditor da Receita cedido para o Ministério da Previdência, Gustavo Starling foi alvo de mandado de busca no dia da operação, segundo a PF.

A PF suspeita que Starling manteve contatos com os principais líderes do esquema e que seja o nome dele ao lado de valores em anotações apreendidas com o doleiro Fayed Traboulsi.

As investigações indicam que, além de lavar dinheiro, os líderes do grupo participavam de um esquema que aliciava prefeitos e gestores do fundo de previdência de servidores.

Em troca de vantagens indevidas, eles aplicavam dinheiro da previdência social em "papeis podres", ou seja, de baixa rentabilidade e risco extremamente elevado, oferecidos pelo grupo que contava com lobistas e "pastinhas" -- em sua maioria mulheres jovens e bonitas que ofereciam os investimentos.

Entre as funções do departamento onde Gustavo Starling comandava era verificar a regularidade dos regimes próprios de previdência dos Estados e municípios, auditando, por exemplo, se os recursos estavam sendo devidamente aplicados e se havia dinheiro suficiente para pagar aposentadorias dos servidores.

Segundo Otoni Guimarães, diretor do Ministério da Previdência, a exoneração do cargo de coordenador foi assinada na sexta (20), tão logo a pasta confirmou que ele foi alvo da investigação da PF.

A pasta aguarda apenas uma notificação formal da polícia para instaurar um procedimento administrativo e apurar a conduta do servidor.

PLANALTO

Neste sábado, o "Diário Oficial" publicou a exoneração de Idaílson José Vilas Boas Macedo, assessor da pasta comandada pela ministra Ideli Salvatti (Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República).

Filiado ao PT de Goiás desde 1999 e ocupante do cargo no Palácio do Planalto desde março do ano passado, Idaílson é investigado pela PF por formação de quadrilha e tráfico de influência.

Segundo a polícia, em documento ao qual a Folha teve acesso, Ideílson atuava como "lobista" e mantinha "relação intrínseca" com a organização criminosa. Para os investigadores, os diálogos nos quais o assessor foi flagrado ficou claro que ele fazia "tráfico de influência".

Segundo relatório da PF, os diálogos não deixam dúvidas de que o assessor da Presidência atuava em favor da organização criminosa intermediando encontros.

Ele também vai responder a sindicância instaurada nesta sexta para apurar a participação dele no esquema de desvio de recursos de fundo de pensão de servidores municipais.

As investigações da PF e do Ministério indicam que o grupo comandado por um doleiro e um policial aposentado desfrutava de "prestígio no mundo político" e a PF encontrou suspeitos em diferentes órgãos públicos.


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