Folha de S. Paulo


Trajetória política de Luiz Gushiken está no acervo da Folha

A Folha acompanhou a trajetória política de Luiz Gushiken, 63, considerado um dos petistas mais próximos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, desde a fundação do Partido dos Trabalhadores, em 1980.

Administrador de empresas e deputado federal durante três legislaturas, de 1987 a 1999, Gushiken também militou no grupo Liberdade e Luta, conhecido como Libelu.

Na década de 1970, quando foi funcionário do Banespa, participou intensamente do movimento sindical paulista, a ponto de ocupar diversos cargos na diretoria do Sindicato dos Bancários do Estado de SP entre 1978 e 1985, sendo este último ano marcado por ter liderado a categoria em uma greve nacional que mobilizou 700 mil pessoas.

Um ano após a grande paralisação, tornou-se membro do diretório nacional do PT e, em novembro, acabou eleito para seu primeiro mandato na Câmara dos Deputados.

Considerado um ex-radical, o petista alcançou, em 11 de dezembro de 1988, a 1ª vice-presidência da Executiva Nacional do PT e tornou-se presidente interino a partir de janeiro do ano seguinte, ocupando lugar que era de Olívio Dutra. Gushiken permaneceu no cargo até 1991.

Em 1989, foi um dos principais coordenadores da campanha de Lula para a Presidência da República, na qual o candidato perdeu para Fernando Collor de Mello (PRN). Anos depois, Gushiken votou na Câmara a favor da abertura do processo de impeachment do então presidente Collor.

O ex-bancário também participou do comitê que organizou a campanha de Lula ao cargo de chefe do Executivo nacional nas eleições de 1998, porém novamente o petista saiu derrotado, desta vez por Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Após algumas derrotas, finalmente, na eleição de 2002, o ex-metalúrgico tornou-se presidente da República. O líder de sua equipe de transição foi Antônio Palocci, que escolheu Luiz Gushiken para ser seu coordenador-adjunto. Ainda no mesmo ano, Lula indicou Gushiken para comandar a Secom (Secretaria de Comunicação do Governo), com uma verba para gastos em publicidade estimada à época em R$ 113,2 milhões.

POLÊMICAS

A Folha publicou no dia 21 de setembro de 2003 uma polêmica entrevista com o então ministro. Nela, disse que o publicitário Duda Mendonça seria o "ministro da Propaganda" de Lula, deixando no ar a ideia de que o marqueteiro tinha superpoderes no governo.

Pouco mais de um mês após as declarações, o publicitário encaminhou uma carta a Gushiken, na qual "renunciou" ao cargo para o qual, segundo ele, nunca foi nomeado.

À frente da Secom, Gushiken chegou a ser alvo de espionagem da Kroll Associates, uma das maiores empresas de investigação do mundo. De acordo com documentos sigilosos obtidos pela Folha em 2004, a espionagem, que tinha como alvo o alto escalão do governo federal, fora feita a pedido de Carla Cico, então presidente da Brasil Telecom, empresa controlada pelo banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity.

As polêmicas, porém, não pararam por aí. Com a explosão do Escândalo do Mensalão, Gushiken teve o faturamento da sua ex-empresa, a Globalprev Consultores Associados, divulgado.

No primeiro ano do governo Lula (2003), os ganhos da organização especializada em planos de aposentadoria alternativos cresceram 596%.

Neste mesmo período, a Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica (Secom) passou a ser associada indiretamente ao empresário mineiro Marcos Valério Fernandes, acusado de operar o mensalão.

Em 17 de julho de 2005, rebaixado de ministro para secretário, Luiz Gushiken falou sobre a crise à colunista da Folha Eliane Cantanhêde. Quatro dias após a entrevista, o secretário deixou a Secom para ser chefe do Núcleo de Ação Estratégica e, no dia 4 de agosto, o então deputado federal Roberto Jeffersson (PTB-RJ) afirmou durante o seu depoimento à CPI do Mensalão que o ex-ministro permitiu a "escandalosa" atuação de Marcos Valério em Brasília.

No mesmo mês, na CPI dos Correios, o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato insinuou que Gushiken interferia nas decisões de investimento da Previ, o fundo de pensões dos funcionários do BB. Na época, parlamentares suspeitavam que entidades de previdência eram uma das origens do caixa-dois do PT. Depois, Pizzolato afirmou, em entrevista à revista "IstoÉ Dinheiro", que pagamentos do banco à DNA (agência de Valério) foram autorizados por ele por ordem do ex-ministro. De acordo com a CPI, o Banco do Brasil pagou R$ 73,8 milhões à agência, de forma antecipada, via Visanet, entre os anos de 2003 e 2004. Gushiken, então, divulgou uma nota para defender-se das acusações.

No final de 2006, quando Luiz Gushiken estava de saída do governo, declarou em entrevista à Folha que via o risco do PT se transformar no "ninho de serpente" do segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.

Já em 2008, Gushiken viu uma reviravolta na versão que o envolvia no mensalão. O ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, o mesmo que havia feito diversas acusações quando atribuiu ao ex-ministro a ordem de efetuar a liberação de R$ 23 milhões para a empresa de Marcos Valério, voltou atrás na Justiça, em relação ao depoimento concedido à CPI dos Correios: "Estava sob ameaça de que iam me prender. Não tive condições de raciocinar. Fui coagido, ameaçado e humilhado".

Em 3 de maio de 2013, o Supremo Tribunal federal (STF), com o fim do prazo para recursos, oficializou a absolvição de 12 réus do mensalão. Luiz Gushiken, um dos absolvidos, acabou inocentado por falta de provas.


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