Folha de S. Paulo


Prefeitos dizem que deputado intermediava recursos e negociou com Lupi

Prefeitos e ex-prefeitos investigados na Operação Esopo citaram, em depoimento à Polícia Federal, o deputado federal Ademir Camilo (PSD-MG) como intermediário de verbas federais do ProJovem aos municípios. O deputado nega irregularidades.

A operação da PF apura fraudes em convênios no Ministério do Trabalho. O ProJovem, ação da pasta, é uma das maiores fontes de recursos sob suspeita de desvio para o IMDC, entidade sem fins lucrativos que é o alvo principal da investigação.

'Irregularidades tem em qualquer lugar, não só no Ministério do Trabalho', diz ministro
TSE libera pedido de criação do partido PROS para julgamento

Prefeito de São João da Ponte (MG) por dois mandatos, Fábio Cordeiro (eleito pelo PTB) afirmou, em depoimento nesta segunda (9), que o deputado negociava diretamente com o ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi (PDT).

O deputado Ademir Camilo é aliado do Pros (Partido Republicano da Ordem Social), sigla que tenta obter registro na Justiça Eleitoral. O parlamentar já participou de encontros com autoridades junto a líderes do Pros e ajuda na criação da legenda em Minas Gerais.

Gustavo Lima/Divulgação/Câmara dos Deputados
O deputado Ademir Camilo (PSD-MG), citado em depoimentos feitos à PF por intermediar recursos e negociar com Lupi
O deputado Ademir Camilo (PSD-MG), citado em depoimentos feitos à PF por intermediar recursos e negociar com Lupi

Camilo, que foi do PDT até 2011, negou à Folha ter feito a intermediação, mas afirmou que chegou a fazer palestras de divulgação sobre o programa do Trabalho, que Lupi comandou até 2011, quando deixou a pasta sob acusação de irregularidades.

O IMDC é uma Oscip de Belo Horizonte que diz prestar serviços em diversas áreas, como gestão, meio ambiente, educação, cultura, lazer e esportes. Seu presidente, Deivson Vidal, está preso, assim como um ex-assessor parlamentar de Camilo.

O instituto teria sido beneficiado por prefeituras que receberam recursos do programa ProJovem, ou contratando sem licitação ou facilitando a disputa, segundo a PF.

O ex-prefeito de São Francisco (MG), José Antônio da Rocha Lima (eleito pelo PT), negou irregularidades no contrato com o IMDC e confirmou "que Ademir Camilo foi quem conseguiu a verba para o projeto que resultou na contratação".

Ex-prefeito de Januária (MG), Maurílio Arruda (PTC), disse ontem à PF que era rival político de Camilo, e que quando assumiu o cargo em 2009 "a emenda parlamentar do deputado Ademir Camilo, que destinava verbas federais do ProJovem, já estava devidamente consignada".

Afirmou ainda que o ex-assessor do deputado preso na operação, chamado Marcos Vinicios da Silva, o procurou para saber por que a prefeitura havia interrompido pagamentos ao IMDC.
Silva é um dos 22 presos da operação Esopo. Há dois meses, esteve envolvido em outra operação da PF e teve a prisão decretada pela Justiça em apuração sobre comércio irregular de precatórios. Em razão disso, foi exonerado do gabinete de Camilo.

OUTRO LADO

O deputado Ademir Camilo negou envolvimento nas irregularidades apuradas pela operação da PF. Disse ter "total desconhecimento e repúdio" em relação a ações do seu ex-assessor parlamentar.

Camilo disse ainda que suas tratativas com Lupi foram apenas no sentido de cobrar um compromisso do então ministro de ampliar o Projovem em Minas.

Ele afirmou conhecer o presidente do IMDG porque ele o convidara a fazer palestras dentro do Projovem e se disse ver as suspeitas contra ele com "certa indignação".

Colaboraram THIAGO GUIMARÃES e RAUL MONTENEGRO


Endereço da página:

Links no texto: