Folha de S. Paulo


Série de confrontos deixa ao menos 50 detidos em Brasília

Uma série de confrontos entre grupos de manifestantes e a Polícia Militar do Distrito Federal, após um desfile sem ocorrências de Sete de Setembro, deixou ao menos 50 pessoas detidas ontem em Brasília.

A violência ocorreu de parte a parte, com vândalos atacando lojas e o prédio da Rede Globo, e a polícia usando de bastante violência para conter manifestantes. A PM usou mais força e ferramentas como jatos de água, e foi bem-sucedida em desmotivar ao fim do dia os manifestantes.

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Houve 15 atendimentos nos serviços de emergência, sem gravidade, apenas um ligado aos distúrbios da tarde: um fotógrafo que caiu e se machucou.

O dia começou com bastante tranquilidade, com um grande reforço de policiamento devido ao desfile e ao amistoso da seleção brasileira --que venceu a Austrália por 6 a 0.

A presidente Dilma Rousseff, cansada da volta da viagem à Rússia, abreviou para pouco mais de uma hora o desfile militar. Ele juntou entre 10 mil e 15 mil pessoas, segundo a PM, e transcorreu sem incidentes. Dilma foi aplaudida na área restrita, de convidados, por onde circulou com o Rolls-Royce presidencial.

Foi um desfile esvaziado. Em 2011, Dilma reunira 40 mil pessoas na Esplanada, número algo maior do que o que era esperado para este sábado). O menor desfile sob Lula reuniu 30 mil pessoas, em 2006, sob o impacto do escândalo do mensalão. Sob FHC, houve desfiles semelhantes, com cerca de 20 mil pessoas.

A tradicional marcha católica do Grito dos Excluídos, que ocorre após o desfile, também não registrou incidentes.

Os problemas começaram por volta das 11h30, quando um grupo de manifestantes que incluía radicais dos Black Blocks atacou o prédio da Rede Globo, gritando slogans associando a emissora à ditadura militar.

Houve uma tentativa de invasão, e rapidamente a polícia interveio. Um total de 350 homens do Batalhão de Choque isolou a área, e alguns manifestantes depredaram lojas e uma concessionária de automóveis vizinhas. Carros e vidros foram danificados.

Um advogado dos integrantes do Black Blocks, Gilson dos Santos, afirmou que a culpa pelo conflito foi da PM. "A polícia foi encurralando", disse. A estudante da UnB Amanda Greco negou a versão, dizendo que os Black Blocs vieram prontos para "quebrar tudo".

Depois, o grupo uniu-se a outros jovens da Marcha do Vinagre e estudantes. Começaram a marchar em direção ao Estádio Nacional Mané Garrincha, para onde cerca de 40 mil torcedores já se encaminhavam a pé.

Após passarem por dois bloqueios sem conflito, chegaram na última barreira, a cerca de 1 km do estádio. Neste ponto, segundo a PM, houve o auge de presentes: cerca de mil manifestantes, contra 4.000 policiais.

A PM os recebeu com bombas de gás, spray de pimenta e rasantes de ao menos quatro helicópteros. Foram dispersados e se reagruparam no centro da cidade, a Rodoviária do Plano Piloto. Lá, mais conflitos durante a tarde, quando o jogo do Brasil já estava em curso. Neste momento, o grupo já estava reduzido a 100 ou 150 pessoas.

Eles foram então para a praça entre o Museu Nacional e a Biblioteca Nacional, no começo da Esplanada dos Ministérios. Lá, a PM usou pela primeira vez desde o começo dos protestos de rua em Brasília jatos de água contra os manifestantes e bloqueou o acesso ao Congresso.

"As palavras de ordem eram para invadir e quebrar", disse o comandante da PM, coronel Jooziel de Melo Freire. Ele disse que as prisões ocorreram "por conta de baderneiros". Ele não quis comentar os diversos incidentes nos quais policiais atingiram jornalistas com spray de pimenta.

No começo da noite, após o fim do jogo, os manifestantes ou se dispersaram ou passaram a assistir a um show no mesmo lugar onde estavam concentrados.

Segundo a Secretaria de Segurança do DF, todos os detidos seriam liberados até o fim da noite. Entre eles havia 15 menores de idade.

A Secretaria de Segurança do DF afirmou que iria apurar se houve uso excessivo de bala de borracha. Segundo Sandro Avelar, o secretário, o uso de canhões de água foi necessário porque havia a intenção de alguns manifestantes de tentar destruir o palco do show que seria realizado na Esplanada dos Ministérios à noite.


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