Folha de S. Paulo


Advogado de Donadon chama presidente da Câmara de 'medroso'

O advogado do deputado federal Natan Donadon (ex-PMDB-RO), Gilson Cesar Stefanes, chamou o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), de "medroso" e o acusou de atuar para a imprensa.

Donadon, expulso do PMDB, está preso há dois meses em decorrência de uma condenação em definitivo, a mais de 13 anos de prisão, por desvio de dinheiro público e formação de quadrilha. Ontem, escapou da perda do mandato parlamentar após votação secreta no plenário da Câmara.

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No entanto, imediatamente após divulgar o resultado (24 votos a menos que o necessário para a cassação), Henrique Eduardo Alves anunciou uma decisão unilateral de considerar Donadon "afastado" do exercício do mandato. Seu suplente, o ex-ministro Amir Lando (PMDB-RO), deverá tomar posse hoje.

"Desculpe usar essa palavra, mas ele [Henrique] é um medroso. É um ato de medo. Medo da imprensa, da opinião pública. Para resguardar o telhado de vidro dele, decidiu fazer um teatro", afirmou Stefanes, que argumenta que a decisão de Henrique Eduardo Alves não está amparada em qualquer regra regimental ou constitucional.

De fato, o despacho assinado por Henrique não faz menção a qualquer artigo do regimento interno da Câmara, nem à Constituição, nem a qualquer lei específica. Ontem, o presidente da Câmara disse que assumia total responsabilidade pela decisão.

O advogado informou que não vai apresentar um novo recurso ao STF para contestar a decisão do presidente da Câmara. Segundo ele, será usado um mandado de segurança (32.299), já em tramitação desde o último dia 21 e que está sob a relatoria do ministro Dias Toffoli.

Esse mandado contesta decisão semelhante da Mesa Diretora da Câmara, que, depois da prisão de Donadon, decidiu suspender seu salário de R$ 26,7 mil, sua cota parlamentar, verba de gabinete, além da exoneração de todos seus assessores parlamentares e a devolução do apartamento funcional - o que ainda não ocorreu.

Como o efeito prático da decisão unilateral de Henrique ontem mantém todos esses efeitos, incluindo a perda do salário, será usado o mesmo mandado de segurança.

PRESO

Encarcerado desde o dia 28 de junho após ser condenado pelo Supremo, Natan Donadon não teve o seu mandato de deputado federal cassado na noite desta quarta-feira (28).

O resultado representa uma afronta ao STF e um prenúncio da resistência que a Casa deverá ter em cassar o mandato dos quatro deputados condenados no processo do mensalão.

Na votação, que é secreta, o plenário da Câmara registrou apenas 233 votos pela cassação (24 a menos do que o mínimo necessário), contra 131 pela absolvição e 41 abstenções.

A ausência de 108 deputados no dia que tradicionalmente há o maior quórum na Câmara também beneficiou Donadon. Presente no plenário, o deputado reagiu com um grito de "não acredito!"

Apesar disso, o presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), determinou o afastamento de Donadon, pelo fato de ele estar preso, e a convocação do suplente, o ex-ministro Amir Lando (PMDB-RO), para assumir o mandato.

Condenado a mais de 13 anos de prisão pela mais alta corte do país pelo desvio de R$ 8,4 milhões da Assembleia de Rondônia por meio de contratos de publicidade fraudulentos, Donadon foi expulso do PMDB e estava isolado politicamente.

Mesmo assim, vários fatores contribuíram para a reviravolta: insatisfação de deputados com o STF, corporativismo, apoio de da bancada religiosa --Donadon é evangélico-- e de parlamentares da ala governista que não querem que os deputados condenados no processo do mensalão percam seus mandatos.


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