Folha de S. Paulo


Mirando o Planalto, Serra e Aécio reeditam duelo que resiste há 13 anos no PSDB

Num hotel da capital paulista, na noite da última quinta, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) disse, com sorriso no rosto: "Tem que reconhecer que ele é persistente".

A frase integra o relato de dirigentes do PSDB de São Paulo sobre longa conversa que tiveram com o mineiro a respeito da entrada do ex-governador José Serra (PSDB) no cenário eleitoral de 2014.

Ex-deputado, ex-senador, ex-ministro, ex-prefeito e ex-governador, Serra se movimenta para se lançar pela terceira vez à Presidência.

Assim como em outras ocasiões, o PSDB tem divisões; diferentemente de antes, agora o favorito para vencer a batalha interna é Aécio. E Serra estuda deixar a sigla e filiar-se ao PPS para não perder a chance de tentar chegar ao Palácio do Planalto.

Serra e Aécio têm pequenos desentendimentos há mais de uma década. No fim do ano 2000, quando o presidente da República era FHC e Serra já despontava como nome do partido para sua sucessão, por causa da gestão no Ministério da Saúde, Aécio começou a trabalhar para ser presidente da Câmara.

Serra era contra e chegou a dizer isso ao mineiro. Havia intenção de que o antigo PFL, hoje DEM, ficasse com a vaga. Aécio conseguiu apoio dentro da Casa e chegou à presidência da Câmara.

Segundo serristas, a derrota fez o PFL dificultar o apoio a Serra na eleição presidencial de 2002. O episódio não foi grave, mas marcou o início de uma relação conflituosa. Durante a campanha, seguiram-se acusações de que, mais preocupado em garantir o governo de Minas Gerais, Aécio se empenhou pouco pela eleição de Serra.

Num evento com o então governador Itamar Franco (sem partido), por exemplo, que fazia campanha por Lula, Aécio cometeu a gafe de chamar o petista de "presidente". Para minimizar o estrago, emendou um "do PT" em seguida. Era setembro e a disputa de Lula contra Serra estava a pleno vapor.

Serra perdeu naquele ano. Em 2006 foi a vez do hoje governador paulista Geraldo Alckmin disputar --e perder.

Aécio se reelegeu governador e se consolidou como um dos nomes mais fortes do PSDB. Em 2010, Serra voltou a tentar o Planalto, após rivalizar internamente com Aécio. Foi nesse ano que a relação já frágil azedou de vez.

Novamente, aliados do ex-governador paulista se queixaram do pouco empenho do mineiro na campanha. Derrotado, Serra perdeu espaço no partido na mesma proporção em que Aécio passou a controlar a direção da sigla.

Nesse estágio, as rusgas, antes muito restritas aos bastidores, começaram a transbordar frequentemente.

Um desses momentos foi em 2012, quando Serra foi convencido a disputar a Prefeitura de São Paulo e encarar uma campanha em que lutou principalmente contra o fantasma de ter abandonado o cargo em 2006.

Questionado, em entrevista à Folha e ao UOL, se uma vitória na disputa municipal impediria Serra de deixar o posto para disputar a Presidência, Aécio disse que não.

Serra reagiu com ironia. "Não podia esperar do Aécio senão essa manifestação de generosidade."

A última vez que conversaram longamente sozinhos foi no início do ano, antes de Aécio se eleger presidente nacional do PSDB. O mineiro queria avisá-lo de que pretendia conduzir o partido. Serra silenciou.

De lá para cá, o ex-governador paulista voltou a se colocar como presidenciável --dentro ou fora do ninho.

Aécio, num primeiro momento, não problematizou o tema. Chegou a desejar que Serra "fosse feliz" onde quer que escolhesse ir.

Quando o ex-governador passou a falar em prévias, numa aparente provocação a Aécio, o mineiro dobrou a aposta e disse topar.

Aliados de Aécio acreditam que Serra apenas busca discurso para legitimar sua saída. Mas dizem que o mineiro não facilitará o jogo. A ideia é jogar água na fervura.

"Aécio e Serra têm estilos e origens diferentes no PSDB. Mas não haverá final infeliz", disse o presidente do PSDB-MG, Marcos Pestana.


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