Folha de S. Paulo


Procurador questiona pesquisa de Tarso Genro sobre jornal gaúcho

O Ministério Público de Contas do Rio Grande do Sul encaminhou uma representação contra o governo de Tarso Genro (PT) devido a uma pesquisa de opinião contratada pelo Estado que indagou a população sobre a "imparcialidade" do jornal "Zero Hora".

O órgão, que auxilia o Tribunal de Contas do Estado, afirma no ofício, protocolado nesta terça-feira (20), que não há nenhum interesse público nessa pergunta e faz críticas aos gastos com a contratação dos pesquisadores. A empresa Foco Opinião e Mercado recebeu R$ 400 mil pelo trabalho.

A pesquisa, feita em abril, continha cerca de 20 questões sobre temas como a avaliação do governo petista e a percepção de serviços públicos.

A pergunta específica aos entrevistados sobre o jornal gaúcho, o principal do Estado, foi a seguinte: "O jornal "Zero Hora" faz uma cobertura imparcial dos assuntos do governo?"

Um capítulo inteiro foi dedicado ao fim das concessões privadas em estradas, assunto que virou uma das principais bandeiras do governador no mandato.

Outra questão criticada pelo Ministério Público de Contas foi: "Na sua opinião no que a administração do governador Tarso Genro se diferencia positivamente dos governos anteriores?".

"Não se verifica interesse público em contratar pesquisadores com vistas a obter a percepção da população mediante questionamento genérico", escreveu o procurador-geral do MP de Contas, Geraldo Da Camino.

Para Da Camino, deve ser debatido no Tribunal de Contas se a despesa se enquadra em critérios de "impessoalidade" e de "moralidade".

A representação será encaminhada ao TCE, que deve abrir um procedimento para examinar o assunto. Dependendo das conclusões dos auditores, o caso pode ir a um julgamento pelos conselheiros, que têm a possibilidade de aplicar algum tipo de sanção.

Foram ouvidas pelo instituto 2.400 pessoas em todas as regiões do Estado.

Procurado pela Folha, o grupo RBS disse considerar "no mínimo estranho" o uso de dinheiro público para pesquisar a cobertura de meios privados de comunicação. "Especialmente porque o governo buscou aprofundar a percepção apenas sobre um veículo, no caso, 'Zero Hora'. Mas não surpreende que a pesquisa, realizada em abril, tenha apontado que o público em sua maioria considera 'Zero Hora' um jornal imparcial", disse o diretor-executivo de Jornalismo, Marcelo Rech.

OUTRO LADO

Tarso já fez declarações polêmicas sobre o diário. Neste mês, em entrevista, disse que o grupo RBS, que controla o jornal, "faz tudo para jogar o Estado para baixo" e é um "grupo político-ideológico de comunicação".

O governo do Estado informou, de acordo com o Ministério Público de Contas, que o objetivo da pesquisa era investigar "a percepção" dos serviços públicos e atividades da administração. Também falou em "reunir dados" para desenvolver uma estratégia de comunicação no Estado.

A secretária de Comunicação do Estado à época da pesquisa, Vera Spolidoro, diz que ficou surpresa com a representação e que não há "nada de extraordinário" no trabalho feito.

Sobre a menção específica a "Zero Hora", ela diz que o jornal foi citado por ser apontado em pesquisa como o mais lido do Estado.

"Era uma questão de percepção da leitura, de como o jornal era visto. Isso porque temos uma preocupação com a democratização da comunicação. Estamos tentando criar um Conselho de Comunicação e políticas nessa área."

O projeto do conselho está na Assembleia sem data para ser votado.

Spolidoro deixou o cargo há dois meses e hoje é coordenadora do Gabinete de Inclusão Digital do Estado.

Ela afirma que todos os governos fazem pesquisas do tipo e que outras já haviam sido produzidas anteriormente. Também diz que o gasto de R$ 400 mil se refere à contratação de quatro pesquisas.


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