Folha de S. Paulo


Professores em greve protestam perto da residência do governador do Rio

Professores da rede estadual do Rio em greve fazem protesto na tarde desta segunda-feira (19) próximo à residência do governador Sérgio Cabral (PMDB), no Leblon, zona sul da capital fluminense.

A manifestação, que reúne cerca de cem manifestantes, transcorre pacificamente, mas levou ao fechamento de uma das pistas da avenida Delfim Moreira.

No começo da tarde, os professores agitam bandeiras e entoavam palavras de ordem, como "a educação parou" e "educação na rua, Cabral a culpa é sua". Por volta das 16h30min, a direção do sindicato da categoria chegou para transmitir aos colegas os encaminhamentos de uma reunião ocorrida pela manhã, com integrantes do governo do Estado.

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Os profissionais de ensino estão em paralisação desde 12 de agosto e a pauta de reivindicações inclui reajuste de 28% e o fim de bônus baseados em resultados meritocráticos a partir do desempenho obtido pelos estudantes da rede em provas aplicadas pelo Estado. Atualmente, o salário base de um professor do estado é de R$ 1.080 para uma carga horária de 16 horas semanais.

Adriano Barcelos/Folhapress
Em greve, professores da rede estadual do Rio fazem protesto próximo à residência do governador Sérgio Cabral (PMDB)
Em greve, professores da rede estadual do Rio fazem protesto próximo à residência do governador Sérgio Cabral (PMDB)

"Defendemos salários iguais para todos, os bônus servem para usar os alunos. E se todas as escolas forem bem, como fica? Haverá dinheiro para todas?", questiona o professor de educação física Luiz Antonio Contarini, 50 anos, que leciona na Ilha do Governador e dirige a divisão do sindicato na sua região.

Os professores apontam ainda o fechamento de mais de cem escolas pela atual gestão, levando à superlotação em algumas turmas, de acordo com os sindicalistas.

Segundo Marta Moraes, coordenadora do sindicato dos profissionais de ensino, a reunião com o governo serviu para a reabertura das discussões para uma das principais demandas da categoria: a associação entre matriculas de profissionais e escolas. Hoje, professores lecionam em mais de uma instituição de ensino e são obrigados a se deslocarem para diferentes pontos para trabalhar.

"A secretaria da educação abriu duas vertentes para esse debate: em um, os professores teriam de abrir mão de sua origem, ou seja, teriam de aceitar trabalhar em escolas diferentes das atuais, se necessário. Outra, seria ampliar a carga horária para 30 horas, para aqueles que quisessem", afirma Marta.

Adriano Barcelos/Folhapress
Em greve, professores da rede estadual do Rio fazem protesto próximo à residência do governador Sérgio Cabral (PMDB)
Em greve, professores da rede estadual do Rio fazem protesto próximo à residência do governador Sérgio Cabral (PMDB)

Outro ponto discutido, conforme o sindicato, foi em relação ao ponto dos grevistas. Enquanto a legalidade da paralisação não é julgada, os professores têm sido considerados faltantes. O governo teria garantido ainda que não pretende abrir processos administrativos que poderiam culminar na demissão de grevistas.

"Com relação à possibilidade de reajuste, o governo disse que não dará mais nada", completou Marta.

Após uma greve de 72 horas, a gestão Cabral concedeu em abril aumento de 8% aos professores, mas a categoria exige 16% em caráter emergencial.

REDE MUNICIPAL

Professores da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro também fizeram, na quarta-feira, um protesto por melhorias nas condições de trabalho. De acordo com o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio, que engloba também os profissionais do município, cerca de 3 mil professores participam do ato, que começou no Largo do Machado e segue em direção a Botafogo, na zona sul da cidade.

INSATISFAÇÃO

Além das manifestações organizadas por sindicatos de categorias, o Rio de Janeiro tem visto rotineiramente atos exigindo a renúncia de Cabral, opção descartada pelo político. Devido às pressões, o peemedebista desistiu de utilizar diariamente um helicóptero do Estado para percorrer os menos de menos de 10 quilômetros que separam sua casa do Palácio Guanabara, ambos na zona sul da capital fluminense.

A Folha revelou que o gasto anual com operações aéreas da Subsecretaria Militar, responsável pela frota que atende as autoridades estaduais, é de R$ 9,5 milhões, incluindo combustível, seguro e aula para pilotos. Sete helicópteros atendiam ao governador, vice, secretários e presidentes de autarquias estaduais.

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Em junho, o procurador-geral de Justiça do Rio, Marfan Martins Vieira, instaurou procedimento para "[apurar o uso]" dos helicópteros. De acordo com a revista "Veja", as aeronaves transportaram os filhos de Cabral, babás e até o cachorro da família, Juquinha. Também foram usadas, segundo a reportagem, por empregados pessoais do governador em viagem à casa de veraneio do político.

CÂMARA DO RIO

A Câmara Municipal do Rio de Janeiro também tem sido alvo de protestos desde sexta-feira, quando dois peemedebistas --Chiquinho Brazão e Professor Uóston, colegas de partido do prefeito do Rio, Eduardo Paes-- foram escolhidos para comandar a CPI do Ônibus, que irá investigar a concessão das linhas de ônibus municipais do Rio. Brazão e Uóston foram escolhidos, respectivamente, como presidente e relator da CPI.

O Eliomar Coelho (PSOL), autor do requerimento para a criação da comissão, é o único membro da CPI que assinou o pedido. A expectativa de quem acompanhava a sessão era que ele fosse escolhido para conduzir os trabalhos de investigação.

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A instalação da CPI era uma das reivindicações dos manifestantes que, desde junho, saem às ruas no Rio. Os vereadores que apoiam o prefeito Eduardo Paes (PMDB) --40 dos 51 que compõe a Casa-- resistiam a assinar o pedido, mas parte acabou cedendo devido à pressão popular.

Um grupo de 50 manifestantes ocupou o interior do prédio na sexta-feira e ao menos nove pessoas permanecem acampadas no plenário da Casa na praça da Cinelândia, no centro do Rio. A sessão de quinta teve que ser cancelada devido à pressão daqueles que participavam do protesto e cercavam a Casa.

AMARILDO

Os manifestantes que vão às ruas no Rio e em São Paulo frequentemente exigem saber o que aconteceu com Amarildo Dias de Souza. O ajudante de pedreiro e morador da comunidade da Rocinha desapareceu em 14 de julho, no Rio. Amarildo foi visto pela última vez sendo levado por recrutas da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) à sede da unidade, no alto da favela. As câmeras de segurança localizadas diante da sede da UPP estavam queimadas no dia em que o assistente de pedreiro foi levado. A família de Amarildo diz acreditar que ele está morto.


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