Folha de S. Paulo


Força Nacional será enviada à Bahia para conter conflitos entre índios e fazendeiros

Tropas da Força Nacional devem chegar neste domingo (18) à cidade de Buerarema, no sul da Bahia, onde se intensificaram nos últimos dias os conflitos entre índios tupinambá e fazendeiros devido à invasão de 25 propriedades rurais que estariam em áreas indígenas.

A situação mais tensa ocorreu na sexta-feira (16), quando, durante protesto de fazendeiros na BR-101, a loja da Ebal (Empresa Baiana de Alimentos) foi saqueada pelos manifestantes, que também atearam fogo em três veículos da Secretaria Especial de Saúde Indígena, ligada ao Ministério da Saúde.

Na quinta-feira, dois índios foram baleados numa estrada vicinal quando voltavam da escola, à noite. Eles estão no Hospital de Base, em Itabuna, e não correm risco de morte.

Fazendeiros relataram que, numa das invasões, índios atiraram coquetéis molotov na mercearia de uma fazenda. Não houve feridos.

O Governo da Bahia anunciou que, além das tropas da Força Nacional, terá o reforço de policiais militares e federais na região de Buerarema. O efetivo que será enviado não foi informado. Fazendeiros e índios acusam o lado oposto de estar armado.

O cacique Val Tupinambá afirmou que as invasões são uma tentativa de pressionar o governo federal a publicar a demarcação de 47,3 mil hectares de área indígena, nos municípios de Buerarema, Ilhéus e Una. Na área há cerca de 600 fazendas.

A estimativa é a de que ao menos 300 índios participem das invasões. "Queremos que eles saiam logo da nossa terra e desejamos que o governo também faça a sua parte. Vamos continuar as invasões até que nossa área seja demarcada e os fazendeiros se retirem", disse o cacique.

Os índios vêm intensificando as invasões desde o início do ano. Segundo Val Tupinambá, já são mais 80 propriedades ocupadas, numa ação que eles chamam de "retomada".

A reportagem tentou falar com Nícolas Melgaço, chefe da Fundação Nacional do Índio, em Ilhéus, mas o celular dele estava desligado.

Um dos fazendeiros cuja propriedade foi invadida é Paulo César Oliveira Pereira, para quem a tendência é a situação na região ficar cada vez mais tensa. "É muito grave o que está acontecendo. Os índios estão botando todo mundo para correr", afirmou.

Muitos fazendeiros já estão retirando o gado de suas propriedades. Eles se queixam da falta de cumprimento das reintegrações de posse emitidas pela Justiça e já em posse da PF.

Segundo os fazendeiros, há cerca de 20 mandados de reintegração já emitidos - a PF confirma ao menos dez.


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