Folha de S. Paulo


Justiça americana apresenta acusação contra ex-executivo da Alstom

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos apresentou, no último dia 30, uma acusação contra um ex-executivo da Alstom por suposta participação em um esquema de suborno a funcionários de governos estrangeiros.

Lawrence Hoskins, 62, ex-vice presidente para a região da Ásia na companhia francesa, foi acusado de lavagem de dinheiro e conspiração para violar a lei americana de prevenção à corrupção, a FCPA (Foreign Corrupt Practices Act).

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No Brasil, a francesa Alstom começou a ser investigada em maio de 2008, quando o "Wall Street Journal" revelou que ela usava um banco e uma filial na Suíça para distribuir comissões para conseguir contratos entre 1995 e 2003. Até o ano 2000 a França autorizava empresas a pagar comissões para obter negócios.

No dia 2 de agosto, a Folha revelou que a Siemens apresentou às autoridades brasileiras documentos nos quais afirma que o governo paulista soube e deu aval à formação de um cartel para a linha 5 do metrô de São Paulo. De acordo com a empresa, a operação se deu no ano de 2000, quando o Estado era governado pelo tucano Mário Covas, morto no ano seguinte.

A francesa Alstom também participou dessa concorrência. De acordo com os documentos entregues pela Siemens, a empresa tinha um acordo com a rival francesa para dividir o contrato se uma das duas vencesse a disputa.

De acordo com o Departamento de Justiça, Hoskins e outros executivos da subsidiária do grupo baseada em Connecticut --alguns já haviam se declarado culpados por parte das acusações-- teriam pago propina a autoridades na Indonésia, incluindo um parlamentar e altos membros da PLN, estatal de eletricidade da Indonésia.

Os pagamentos foram feitos em troca de um contrato de fornecimento de energia no valor de US$ 118 milhões e contaram com a participação de dois consultores para ocultar o suborno, segundo as acusações.

Os consultores teriam recebido centenas de milhares de dólares em contas bancárias para pagar o parlamentar, movimentação discutida detalhadamente em e-mails trocados pelos executivos, conforme as acusações.

O nome da companhia não foi citado no processo. Mas há semelhanças com a situação enfrentada pela empresa no Brasil, segundo o advogado especialista no assunto Robert Anello, do escritório Morvillo Abramowitz, de Nova York.

"Notamos que alguns países, historicamente, concentram casos de suborno em contratos públicos. É péssimo dizer isso, mas também não é incomum no Brasil", afirma.

Hoskins deve ir a julgamento em um processo que pode durar mais de um ano, de acordo com especialistas, e pode recorrer. O executivo não foi encontrado para comentar e a subsidiária da empresa em Connecticut não respondeu aos pedidos de entrevista.


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