Folha de S. Paulo


Sob pressão, Dilma nega ser alvo de motim no Congresso

Apesar de sua base de apoio no Congresso apresentar o maior grau de infidelidade desde 1989, a presidente Dilma Rousseff procurou aliviar ontem a tensão com aliados no Legislativo, que retomará hoje votação de projetos que interessam ao governo.

Antes de se reunir com os líderes governistas, a petista afirmou, em entrevista coletiva, que considera "democrático" eventual motim em sua bancada, mas negou ser alvo de hostilidade dos congressistas.

"Eu tenho a impressão que a base [aliada] só é brava com você, comigo ela não é brava", disse a presidente, em resposta à pergunta de uma jornalista após solenidade no Palácio do Planalto.

Questionada sobre o risco de rebelião no seu bloco de sustentação, Dilma evitou entrar em atrito com os parlamentares. "Eu acho que a diferença de opiniões é possível, e acredito que nós vamos construir um caminho muito seguro para o Brasil".

Pedro Ladeira-5.ago.13/Folhapress
O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e a presidente Dilma Rousseff em solenidade no Planalto
O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e a presidente Dilma Rousseff em solenidade no Planalto

Mais tarde, líderes aliados na Câmara se reuniram com a presidente no Planalto. O encontro teve as presenças de quatro ministros -Ideli Salvatti (Relações Institucionais), Aloizio Mercadante (Educação), Alexandre Padilha (Saúde) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil)-, além do vice-presidente Michel Temer.

Segundo a presidente, a reunião trataria essencialmente do programa Mais Médicos, de ampliação do quadro de profissionais de saúde do governo federal.

No primeiro semestre deste ano, integrantes dos nove partidos com ministérios votaram 69% das vezes seguindo a orientação governista na Câmara, segundo dados do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, percentual mais baixo de fidelidade desde a redemocratização.

Estão na pauta do Congresso temas delicados ao governo, como a análise de vetos presidenciais a projetos de parlamentares. Além disso, há temas como a sugestão de plebiscito para a reforma política, ideia lançada pelo governo, mas que encontra forte resistência no Legislativo.

Dilma abordou o assunto em seu discurso durante o ato de sanção do Estatuto da Juventude. "Eu considero que consultar o povo nunca é demais", disse, durante seu discurso. "Em outros momentos da minha vida, eu também estive nas ruas lutando por mais democracia e mais direito. Naquela época você ia uma vez, ou duas ou três vezes para a rua, mas depois você acabava na cadeia", afirmou.

VOTAÇÕES

O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), voltou a defender a votação imediata do projeto que estabelece a execução obrigatória das emendas que os congressistas fazem ao Orçamento da União.

Segundo ele, o projeto deve ser votado hoje na comissão especial criada para discutir o tema e já entrará amanhã na pauta do plenário.

O presidente da Câmara diz que o tema, contrário aos interesses do governo, é "inegociável". "No que depender de mim, do meu trabalho, esse toma lá dá cá de muitos anos em relação às emendas tem dia e hora para acabar."

As emendas -que representam em sua maioria obras nos redutos dos parlamentares- são usadas historicamente como moeda de troca entre governo e sua base.
No Senado, aliados afirmam que o segundo semestre será de "dificuldades" para o Planalto. Hoje Dilma recebe senadores governistas.

"Você só colhe aquilo que planta. Plantou confusão, vai colher confusão", disse o senador Blairo Maggi (PR-MT).

Há resistências do próprio presidente, Renan Calheiros (PMDB-AL). Em conversas com aliados, Renan indicou que não vai "facilitar" a vida do Planalto até o fim do ano.

Editoria de arte/Folhapress
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