Folha de S. Paulo


Base de Dilma no Congresso é a menos disciplinada desde 89

Com o fim do recesso no Congresso, Dilma Rousseff reencontrará nesta semana a base parlamentar mais indisciplinada que um presidente já contou desde a volta das eleições diretas para presidente, em 1989.

Análise de vetos testará rebeldia da bancada governista no Congresso

No primeiro semestre deste ano, integrantes dos nove partidos com ministérios no seu governo votaram 69% das vezes seguindo a orientação da liderança do governo na Câmara, segundo números do banco de dados legislativos do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).

Editoria de Arte/Folhapress

Essa taxa de fidelidade é menor que a obtida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no pior momento de seu governo, após o escândalo do mensalão --a orientação de seus líderes no Congresso foi respeitada 81% das vezes em 2005 e 78% em 2006.

Deputados e senadores voltam ao trabalho nesta semana com uma pauta delicada para o governo, que inclui vetos de Dilma a projetos que impõem custos elevados, como o que extingue a multa de 10% do FGTS paga pelas empresas em caso de demissão.

A pauta, classificada como "indigesta" pelo líder do PT, José Guimarães (CE), inclui ainda o projeto que obriga o governo a executar emendas incluídas por parlamentares no Orçamento para financiar obras paroquiais, e a proposta que o PMDB promete apresentar propondo a redução do número de ministérios.

Com a popularidade abalada pela estagnação da economia e pelos protestos de junho, Dilma passou a ser criticada abertamente por líderes dos partidos que a apoiam, insatisfeitos com o espaço que têm no governo e com a falta de articulação do Planalto com o Congresso.

Os nove partidos que sustentam o governo Dilma controlam 364 das 513 cadeiras da Câmara dos Deputados. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), que alcançou 93% de fidelidade de sua bancada, governou com apenas quatro partidos ao seu lado no Congresso.

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Principal parceiro do PT na coalizão governista, o PMDB é também a segunda sigla menos fiel da bancada. O partido do vice-presidente Michel Temer controla cinco ministérios e tem 80 deputados, mas só seguiu a orientação do governo 57% das vezes.

No início de julho, por exemplo, o partido votou em bloco contra o governo e aprovou a extinção da multa do FGTS, que acabou vetada por Dilma.

Em março e abril, o PMDB apoiou a criação de quatro novos tribunais regionais federais, ideia que também desagrada ao governo por causa do custo elevado.

O líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), rejeita a pecha de infiel. Diz que o partido foi disciplinado "quando o governo mais precisou" e que só houve divergência em assuntos que "não foram discutidos previamente conosco".

A cientista política Andréa Freitas, do Cebrap, diz que a fidelidade da base governista é baixa, mas a agenda de Dilma não inclui iniciativas cuja aprovação exija ampla maioria do Congresso --como reformas constitucionais.

"O importante para Dilma talvez não seja ter uma disciplina de 90%, mas conseguir aprovar sua agenda", diz Andréa. "Derrotas pontuais são esperadas em democracias."


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