Folha de S. Paulo


Sérgio Cabral tenta reencontrar o caminho que o levou a ser reeleito

Os dias têm sido de muitas reuniões no Palácio Guanabara, sede do governo do Rio. É nesses encontros que Sérgio Cabral (PMDB) tenta reencontrar o caminho que o levou a ser reeleito, em 2010, com o maior percentual de votos entre os governadores.

A situação mudou. Cabral foi o governante mais mal avaliado do país em recente pesquisa Ibope e é alvo de protestos quase diários de manifestantes que pedem seu afastamento.

Mascarados, manifestantes caminham em direção ao Ministério Público
Manifestantes ocupam esquina de Cabral há mais de 62 horas no Rio

Agora o PMDB do Rio quer usar as inserções do partido na televisão previstas para a segunda semana de agosto para tentar recuperar a imagem de Cabral.

"Defendo que ele apareça no fim das inserções. Vivemos um momento de recuperação da imagem do governo", disse o presidente do PMDB do Rio, Jorge Picciani. O PMDB nacional havia decidido expor seus potenciais candidatos nos Estados. Assim, o espaço seria ocupado pelo vice Luiz Fernando Pezão (PMDB), pré-candidato à sucessão.

Mas há quem tema uma superexposição do governador. O partido deve bater o martelo nos próximos dias. Se aprovadas, as inserções com Cabral serão reforçadas por uma maciça campanha institucional, que deve ir ao ar na segunda quinzena de agosto.

ISOLAMENTO

Cabral tem recebido poucos gestos de apoio. Até aliados dizem que ele está pagando o preço do isolamento político a que se submeteu desde que foi reeleito.
Líder do maior colégio eleitoral governado pelo PMDB, ele nunca cultivou boas relações com a cúpula do partido e sempre foi visto como um rival do atual presidente do partido e vice-presidente da República, Michel Temer.

Além disso, mantém relação protocolar com a presidente Dilma Rousseff. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva virou seu amigo pessoal, mas não veio a público para defendê-lo desde que a crise se agravou no Estado.

Picciani costura acordo para garantir que parlamentares aliados ajudem a derrubar propostas de CPI que deverão ser apresentadas hoje com a volta do recesso.

CPI SOBRE AS OBRAS

A mais temida é a chamada CPI da Serra, que apuraria as obras na região serrana do Rio de Janeiro. O receio é que ela atinja o vice Pezão, condutor das obras na região.

Ontem Cabral convidou deputados aliados para uma reunião no Palácio Guanabara. Cinco deles disseram à Folha que pretendem ajudar nas votações na Assembleia, mas sem atrelar sua imagem ao governador.

A estratégia para tentar estancar a atual crise também passa por mudanças no perfil dos compromissos do governador. Sua equipe definiu que ele deve se expor, dialogar mais, e abrir espaço até para os manifestantes que o pressionam a deixar o cargo. A ideia é aproximá-lo do modelo adotado pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB).

"O Rio sempre foi um cemitério de governantes. O Cabral era, até hoje, uma exceção", afirmou o líder do PMDB na Câmara federal, Eduardo Cunha (RJ).

MUDANÇAS

As mudanças já começaram a ser ensaiadas nas últimas semanas. Cabral, que vinha num período recluso, deu entrevista em que reconheceu ter lhe faltado "humildade" e disse "não ser um ditador".

Além disso, se encontrou com a família do pedreiro Amarildo Dias, desaparecido na Rocinha depois de ter passado pela sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na favela, recuou na decisão de demolir o parque aquático Julio Delamare e pode fazer o mesmo com o estádio de atletismo Célio de Barros.

O ato mais recente se deu longe das câmeras. Na noite de terça-feira, os pais da menina Isabela Severo da Silva, morta no vazamento de uma adutora da Cedae, foram levados até o Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador.

Fizeram uma foto ao lado de Cabral e saíram de lá com a promessa de que ganhariam uma casa nova.

Editoria de Arte/Editoria de Arte/Folhapress

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