Folha de S. Paulo


Novo policiamento evitou confronto em protesto no Rio

A nova tática de policiamento usada pela Polícia Militar no protesto de quinta-feira (25) ajudou a impedir os confrontos que vinham se repetindo na maioria das manifestações de rua contra o governador Sérgio Cabral (PMDB).

Cem policiais divididos em cinco equipes acompanharam os manifestantes desde o Leblon até o Leme, onde a manifestação terminou sete horas depois de começar. Os grupos de agentes se revezavam: enquanto um circulava dentro do bloco de manifestantes, os demais circundavam o cortejo. A maioria dos policiais trabalhava em estádios e estão acostumados com aglomerações.

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Todos os policiais militares não tinham à mostra suas identificações. Mas todos os coletes à prova de bala continham referências alfanuméricas (com letras de A a D, indicando a equipe, e de 1 a 20, indicando o policial), a fim de dar alguma referência. Os mesmos símbolos apareciam no topo dos bonés que todos usavam.

Os agentes abordavam manifestantes e pediam para revistar mochilas. Ainda no Leblon, após a revista a um rapaz, aparentando 25 anos, ele foi levado para averiguação na 14ª Delegacia de Polícia, no mesmo bairro, porque os policiais encontraram uma faca na sua mochila.

Já na avenida Princesa Isabel, onde o protesto acabou, um agente pediu a identidade de um homem com uma camisa vermelha no rosto. Após demorar algum tempo procurando o documento, o rapaz começou a rebolar em ironia.

O PM respondeu: "Você acha isso adequado? É por isso que o movimento de vocês não cresce. Eu quando estou de folga, apoio vocês. Minha mulher é professora do Estado. Vocês tem que ter mais seriedade", disse o policial.

Os momentos de maior tensão ocorreram na avenida Princesa Isabel. A caminho da orla, o grupo encontrou pela primeira vez uma barreira policial. O objetivo era proteger o palco onde o papa Francisco acabara de rezar a missa de abertura da Jornada Mundial da Juventude. Mas a presença de PMs no meio dos manifestantes inibiu qualquer ataque.

Logo depois, o grupo voltou para a esquina da via com a avenida Nossa Senhora de Copacabana. Ali, um taxista discutiu com os manifestantes, e um oficial PM tentou convencer os jovens a abrir um espaço de cinco passos para a passagem dos carros.

"Vocês estão constrangendo trabalhadores que querem ir para casa", disse o oficial. Ele recebeu como uma das respostas: "Trabalhador não porque hoje [ontem] é feriado."

Houve ainda provocações mútuas entre os manifestantes e peregrinos da Jornada. Alguns jovens católicos se esconderam dentro de lanchonetes à medida que o protesto avançava. Em uma delas, aconteceu uma pequena disputa.

De um lado, os peregrinos cantaram: "Esa és la juventud del papa". A resposta dos manifestantes era: "Vem para a rua" e "Do papa, do papa, do papa eu abro mão. Eu quero mais dinheiro para saúde e educação".

Restaurantes e mercados da avenida Nossa Senhora de Copacabana baixaram as portas com a aproximação dos manifestantes, o que causou reclamações. "Não precisa fechar, não. A gente não é bandido, bandidos são eles que estão no poder", disse uma manifestante.


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