Folha de S. Paulo


Papa critica 'uso livre' das drogas; conheça opiniões divergentes

Ao discursar sobre questão das drogas e dos dependentes químicos, o papa Francisco optou por uma abordagem ligada à ajuda e ao acompanhamento de quem passa por dificuldades. "Estendamos a mão a quem vive em dificuldade, a quem caiu na escuridão da dependência, talvez sem saber como, e digamos-lhe: você pode se levantar, pode subir; é exigente, mas é possível se você o quiser", disse o pontífice nesta quarta-feira (24) em sua fala no Hospital São Francisco de Assis, no Rio.

Francisco também criticou a opção da legalização : "Não é deixando livre o uso das drogas, como se discute em várias partes da América Latina, que se conseguirá reduzir a difusão e a influência da dependência química." A opinião do papa diverge da de outras personalidades que assumiram posições pró-descriminalização ou pró-legalização.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é notoriamente a favor da legalização da maconha para consumo próprio, por acreditar que seria mais racional uma política de prevenção ao abuso.

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Fernando Henrique é acompanhado por outras pessoas influentes no mundo --como os economistas americanos George Shultz e Paul Volcker, o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan e o Nobel de literatura Mario Vargas Llosa-- que alertam para a ineficiência da guerra contra as drogas. Segundo eles, o consumo é irreprimível: bilhões despendidos não diminuíram a demanda e a oferta. Também argumentam que, se controladas e taxadas, a produção e a venda de drogas gerariam recursos para prevenção e tratamento.

O ex-secretário Nacional de Justiça, Pedro Abramovay, é outro nome da defesa da descriminalização. Abramovay, que ocupou a Secretaria Nacional de Justiça durante o governo Lula, deixou a Senad (Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas) em 2011, depois que irritou o governo ao defender o fim da prisão para pequenos traficantes.

O médico e colunista da Folha, Drauzio Varella, também critica as punições previstas em lei e a repressão policial contra drogas. "Oferta e procura é uma lei universal. É ingenuidade irresponsável supor que será revogada com medidas repressivas, por mais lógicas e bem-intencionadas que pareçam", argumentou em junho.

"Se levarmos em conta que são efetuadas cerca de 120 prisões por dia, enquanto o número de libertações diárias é de apenas cem, concluímos que é necessário construir dois presídios novos a cada três meses", escreveu o médico em março.


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