Folha de S. Paulo


Papa Francisco terá porta-retratos da família em quarto em Aparecida (SP)

O ambiente é tão simples que, se não fosse o cheiro de tinta nova nas paredes e um grupo de militares do exército inspecionando os cômodos, algum desavisado poderia achar que o hóspede que chegará na quarta-feira (24) ao Seminário Bom Jesus, em Aparecida (a 180 km de São Paulo), é um homem qualquer.

O local reservado para o descanso do papa Francisco na próxima quarta conta apenas com uma cama de solteiro, cabeceira de madeira e uma mesa oval com quatro cadeirinhas. Nas paredes, uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, santa de devoção do papa e padroeira da cidade, e um quadro de São Pedro.

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Abaixo da imagem, os dois únicos mimos reservados a ele: um porta-retratos com uma foto antiga e em preto e branco da família de Francisco --pai, mãe, irmãos e avós posam ao lado dele, na época um jovem padre-- e uma cuia para tomar mate.

No canto do quarto há uma poltrona de palha com almofadas brancas. Todo ele é decorado em tons de branco e bege. No chão, além da mão de cera para deixar o assoalho brilhando, dois tapetes de tom acinzentado.

Ontem, os funcionários de seminário, que também funciona como pousada, trabalhavam nos últimos preparativos. Não houve troca de mobília. Francisco terá à disposição os mesmos móveis que Bento 16 usou, em 2007, quando passou três dias em Aparecida. Apenas as cortinas serão novas.

Apesar da simplicidade, o primeiro andar inteiro do seminário --um edifício de tijolos aparentes construído em 1894 e reformado em 2005, quando a visita de Bento 16 foi confirmada ficará à disposição de Francisco.

A chamada ala pontifícia conta com quartos para a comitiva do papa, além de uma pequena capela com lugar para cinco pessoas e uma sala de jantar com dez lugares. O papa passará apenas algumas horas no local. Ele chegará em Aparecida às 10h de quarta-feira, e deve deixar a cidade às 16h.

Irá para o seminário após a missa no Santuário Nacional Nossa Senhora Aparecida e o passeio de papa-móvel pelas ruas da cidade. Antes de repousar por alguns instantes, o papa almoçará com sua comitiva e convidados. O refeitório da pousada foi fechado para ele. Há espaço para 117 pessoas distribuídas em 26 mesas. O cardápio não foi revelado.

SEGURANÇA

Um grande esquema de segurança foi armado para a chegada do papa. Ao todo, 5.000 homens das forças armadas e polícias civil, rodoviária, federal e militar foram destacados para garantir a tranquilidade do pontífice. Quatro helicópteros e 200 viaturas ajudarão no trabalho.

Apesar do aparato, o arcebispo de Aparecida, dom Raymundo Damasceno, prevê uma visita tranquila e diz que a cidade está acostumada aos grandes eventos. "Recebemos 11 milhões de romeiros todos os anos", destacou. Ele diz que a visita a Aparecida foi um pedido do próprio papa, que é devoto da santa. É a primeira vez que um pontífice muda o roteiro estabelecido em uma Jornada Mundial da Juventude para visitar um segundo Estado --a programação principal será no Rio de Janeiro.

Damasceno disse também não se preocupar com o risco de manifestações contra o papa. "Se houver, vai destoar da grande sinfonia. Estarão dançando desconforme a música", afirmou.

O arcebispo de Aparecida comentou ainda a simplicidade que Francisco está impondo à sua agenda no Brasil. O papa dispensou a blindagem de automóveis e regalias nos voos de Roma até o Rio, por exemplo. "As pessoas estão cansadas de promessas, estão querendo atitudes. O papa é muito coerente, por isso tem liberdade para falar em simplicidade. Ele fala porque está vivendo isso e as atitudes são mais eloquentes que as palavras", disse.


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