Folha de S. Paulo


Governo admite não saber lidar com protestos no Rio

A quatro dias da chegada do papa Francisco, a cúpula da segurança do Rio reconheceu nesta quinta-feira (18) não saber como atuar contra os grupos de manifestantes que vêm entrando em confronto com a polícia e, em alguns casos, promovendo depredações na zona sul da cidade.

Na madrugada de quinta, um grupo que havia participado de ato em frente à casa do governador Sérgio Cabral, no Leblon, depredou ao menos 25 estabelecimentos comerciais no bairro e em Ipanema, saqueou uma loja de roupas masculinas, destruiu telefones públicos, placas de sinalização e fez barricadas pelas ruas do bairro incendiando pilhas de lixo.

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Nove pessoas foram presas em flagrante e autuadas por formação de quadrilha. Uma delas também foi acusada de porte de artefato explosivo.

A escalada de violência nos protestos preocupa os encarregados de garantir a segurança do sumo pontífice durante sua visita, que começa na segunda-feira.

Ricardo Moraes /Reuters
Moradores do Leblon, no Rio, observam vidros estilhaçados em prédio comercial depredado por manifestantes na madrugada de quinta-feira
Moradores do Leblon, no Rio, observam vidros estilhaçados em prédio comercial depredado por manifestantes na madrugada de quinta

Apesar de os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da Defesa, Celso Amorim, terem participado anteontem no Rio de reunião para tentar convencer representantes do Vaticano da necessidade de reforçar a segurança do papa, ontem o general José Abreu, representante das Forças Armadas na segurança do evento, disse que os protestos não exigiram reavaliação do esquema.

Há ao menos seis manifestações marcadas na cidade no período de permanência do papa para a Jornada Mundial da Juventude. De acordo com o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, a atuação nos protestos exigirá "tratamento diferenciado".

Editoria de Arte/Folhapress
Editoria de Arte/Folhapress

"Não podemos ter um planejamento rígido, engessado, porque essas manifestações são flexíveis. Não há informações suficientes para fazer um planejamento como se tem em um evento formal", disse Beltrame.

"Já estávamos trabalhando com a possibilidade de movimentos contestadores. Fomos surpreendidos pelos protestos durante a Copa das Confederações, mas manifestações intimidatórias e atos terroristas já estavam no nosso rol de preocupações", disse Abreu.

Beltrame disse ainda que a polícia está "aprendendo" como atuar a cada manifestação. "A solução é intermediária. Estamos aprendendo nesse processo com coisas que não conhecemos: coquetéis molotov, pessoas mascaradas", disse o secretário.
O protesto no Leblon gerou mal-estar entre o secretário e o comandante da PM, coronel Erir da Costa Filho.

Desde a Copa das Confederações, período do início dos protestos, o oficial se queixa de falta de orientação de Beltrame para a ação da PM nas manifestações, segundo a Folha apurou.

Auxiliares do secretário, por sua vez, veem "omissão" da Polícia Militar, com intenção de deixar o ônus da crise com Beltrame.

DEMORA

Às críticas de que a PM demorou para intervir e conter os manifestantes ontem, o comando da corporação disse que tentou evitar o uso de armas menos letais após acordo com a OAB do Rio e a Anistia Internacional.

"Mas o que foi pactuado não deu certo", disse o comandante da PM.

O chefe do Estado Maior da PM, Alberto Pinheiro Neto, afirmou que o "pacto" firmado entre o governo e as entidades era evitar usar o gás lacrimogêneo fora da área que se pretendia proteger --no caso, a rua do governador.

"Isso [saques de ontem] provou que há necessidade de se efetivar uma dispersão das multidões fora de controle", disse Pinheiro Neto.

As duas entidades negaram o pedido para que a PM não use gás lacrimogêneo. Afirmaram que pediram o fim do abuso no uso das armas menos letais. (ITALO NOGUEIRA e MARCO ANTÔNIO MARTINS)


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