Folha de S. Paulo


Comandante da PM do Rio diz que polícia deve reavaliar modo de agir durante protestos

Horas depois dos atos de vandalismo que deixaram um rastro de depredação em Ipanema e no Leblon, na zona sul do Rio, o comandante do Estado Maior da PM, coronel Alberto Pinheiro Neto, afirmou nesta quinta-feira (18) que o acerto com as entidades de direitos humanos não foi suficiente para impedir os casos de depredação ocorridos ontem na zona sul.

"Vamos fazer uma reavaliação. O que foi acordado não está de acordo com a boa prática policial. Havia o entendimento da sociedade organizada que a dispersão [com gás lacrimogêneo] provocava essas depredações. Ontem ficou provado que é necessária a dispersão", disse.

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Preocupada com a ameaça de protestos durante a vinda do papa Francisco na próxima semana, a corporação atribuiu parte do caos ocorrido na madrugada no Leblon e em Ipanema ao acordo de redução de uso de armas não letais negociado com a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e a Anistia Internacional, em reuniões ao longo da semana.

O presidente da OAB-RJ, Felipe Santacruz, afirmou que a PM "não tem como transferir a falta de preparo".

"O comandante da PM convidou a OAB a colocar advogados no cordão de isolamento entre policiais e manifestantes. Acho que não é o papel de advogados voluntários. Reconhecemos que não está sendo fácil para ninguém, é uma manifestação de caráter híbrido. A ausência da polícia nos preocupa. O que queremos é a detenção dos que estão praticando atitudes fascistas", disse ele.

O secretário de Segurança Pública do Estado, José Mariano Beltrame, afirmou que a Polícia Militar está estudando a cada manifestação a melhor maneira de atuar. Segundo Beltrame, os casos de vandalismo são provocados por "turbas" que, "por vezes, colocam a polícia entre a prevaricação e o abuso de autoridade".

"A solução é intermediária. Estamos aprendendo nesse processo com coisas não conhecidas, coquetéis molotovs, pessoas mascaradas. É um cenário diferente", defendeu o secretário.

O comandante da Polícia Militar, coronel Erir da Costa Filho, que também estava na entrevista coletiva concedida agora há pouco, afirmou que o batalhão está preparado, mas há uma dificuldade porque não existem líderes nas manifestações. "A negociação é virtual, com quem vamos falar? Não temos com quem negociar", disse.

REUNIÃO DE EMERGÊNCIA

Sérgio Cabral convocou uma reunião de emergência com a cúpula da Secretaria da Segurança Pública, chefes das polícias Civil e Militar e secretários de Estado.

Participaram do encontro o secretário da Segurança Pública José Mariano Beltrame, a chefe da Polícia Civil, Martha Rocha, o comandante da Polícia Militar, Coronel Erir da Costa Filho, além do secretários da Casa Civil, Regis Fichtner, e de Governo, Wilson Carlos Carvalho.

Ontem à noite, um protesto realizado perto da casa do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), terminou em confronto com a polícia, saques e depredações.

Cerca de 200 pessoas participaram da manifestação, nas esquinas da avenida Delfim Moreira com a rua Aristídes Espínola, no Leblon, quando parte do grupo se desentendeu com a polícia --alguns manifestantes usavam máscaras.

Bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e spray de pimenta foram lançados contra o grupo. Manifestantes também lançaram artefatos explosivos de fabricação caseira. Alguns deles foram dispersados pela polícia com jatos de água.

Lojas e agências bancárias foram depredadas e tiveram vidros quebrados. Lojas foram saqueadas. Os manifestantes também colocaram fogo em lixo, fazendo pequenas barricadas.

Um dos prédios administrativos da TV Globo, que fica no Leblon, também teve os vidros quebrados e um rojão foi jogado na portaria, o que provocou muita fumaça.

Em nota, a TV Globo informou que as "vidraças da portaria de um dos prédios administrativos da emissora foram quebradas por pedras atiradas por um pequeno grupo de manifestantes mascarados".


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