Folha de S. Paulo


Oposição entrará com ação contra a ministra Maria do Rosário por acusações

A oposição vai entrar com representação contra a ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) na Comissão de Ética Pública do governo por ela ter responsabilizado os oposicionistas pelos boatos sobre o fim do programa Bolsa Família. Como a Polícia Federal concluiu hoje investigação que aponta responsabilidade da Caixa Econômica Federal nos boatos que levaram milhares de pessoas a tentar sacar o benefício, a oposição considera que Rosário deve se explicar à comissão.

"Uma ministra de Estado não pode ter esse comportamento, uma ação político-eleitoreira, querendo transferir a desorganização do governo para a oposição. Ela precisa responder a esse ato", disse o líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado (GO).

Caiado será responsável pela ação contra Rosário na comissão. O deputado considera que a disputa eleitoral antecipada levou a petista a acusar DEM e PSDB pela disseminação dos boatos, na mesma linha de outros oposicionistas.

"Os petistas não hesitam em fazer média com a inquietação da população. Não hesitaram em fazer factoide político com uma mentira em ano pré-eleitoral", disse o presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN).

O senador afirmou que, desde o início, o governo sabia que falhas técnicas tinham desencadeado os boatos. "Atribuíram à oposição uma coisa que eles sabiam ser falha do sistema deles", completou.

Vice-líder do PSDB, o senador Álvaro Dias (PR) disse que uma "lambança" feita pela Caixa foi efetivamente responsável pelos boatos do fim do programa. "Não era necessário nem nos dizer que não era a oposição porque estava visível que se tratava de uma lambança dentro do próprio governo, na Caixa Econômica Federal. Nós queríamos que as investigações alcançassem outras instâncias, mas isso não avançou."

A Polícia Federal finalizou o inquérito que investigou a onda de boatos sobre o Bolsa Família, após quase dois meses de trabalho, mas não identificou nenhum indício de crime. Por isso, nenhuma pessoa foi indiciada ou responsabilizada.

A conclusão contraria o discurso oficial do governo federal explicitado logo após a onda de boatos, no sentido de que haveria uma ação orquestrada para difundir o boato sobre o fim do programa.

A PF concluiu que houve uma decisão de gestão da Caixa Econômica Federal, que antecipou parte dos pagamentos sem aviso prévio para os beneficiários. O inquérito constatou um aumento no volume de saques em Ipu (CE) e Cajazeiras (PB), cidade onde teve a primeira notícia do pagamento no Facebook. Também não foi identificado o uso de empresas contratadas ou rádios comunitárias. Cerca de 200 pessoas foram ouvidas.

Segundo o relatório final, foi um conjunto de "fatores desassociados" que levou à onda de boatos, que teriam sido espontâneos, sem intenção de causar qualquer dano ao governo. Por isso a PF afirma que não houve crime ou contravenção.

O CASO

Em maio, milhares de pessoas correram até as agências da Caixa Econômica para sacar os benefícios, após a propagação do boato de que o programa iria acabar. Houve tumulto em alguns locais. Também foi difundida a informação de que o governo iria depositar um dinheiro extra por conta do Dia das Mães.

Na época, a ministra Maria do Rosário afirmou, em sua conta no Twitter, que "boatos sobre fim do Bolsa Família devem ser da central de notícias da oposição". "[O boato] revela posição ou desejo de quem nunca valorizou a política."

Na mensagem, a ministra não deu nenhum tipo de detalhe do motivo pelo qual apontou a oposição como culpada pelos rumores.

Em entrevistas, outros dois ministros, José Eduardo Cardozo (Justiça) e Tereza Campello (Desenvolvimento Social), vieram à público para negar o boato, que atingiu cidades no Norte, Nordeste e no Rio, criando caos em agências da Caixa Econômica Federal.

Cardozo também afirmou na época que todas as possibilidades estavam sendo consideradas, inclusive a de motivação política.

O Bolsa Família, que contempla 13,8 milhões de famílias e completa dez anos em outubro, é o principal programa de transferência direta de renda do governo. Ele tem forte peso político-eleitoral, tendo virado um dos símbolos das gestões de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

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