Folha de S. Paulo


Suíça devolve ao Brasil R$ 10,7 mi do ex-juiz Nicolau dos Santos Neto

O governo da Suíça anunciou nesta terça-feira (9) a devolução ao Brasil de US$ 4,7 milhões (R$ 10,7 milhões) depositados em Genebra em nome do ex-juiz Nicolau dos Santos Neto e de sua mulher.

Segundo o Ministério da Justiça, esse é o maior valor recuperado de uma única vez junto a autoridades.

Os recursos repatriados estão relacionados ao desvio de verbas públicas relacionados à construção do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região de São Paulo, na década de 90.

As contas foram congeladas em 2000, quando o governo suíço atendeu ao primeiro pedido da Justiça brasileira. Em 2010, a Justiça suíça determinou a apreensão do dinheiro.

A defesa de Nicolau ainda não foi localizada para comentar a decisão.

Agora, a Advocacia Geral da União se prepara para tentar encontrar bens em nome do juiz e da mulher dele equivalentes a R$ 2 milhões, valor referente a multa por ter feito remessa ilegal ao exterior. Ainda não foi localizado, contudo, nenhum patrimônio do casal no Brasil.

Atualmente, o Brasil tenta reaver US$ 300 milhões bloqueados em diferentes países relacionados a 45 casos. Somente na Suíça, são 27 ações.

"Conseguimos reaver em torno R$ 115 milhões decorrentes das fraudes da construção do TRT. Esses recursos devem alcançar a cifra de mais de R$ 500 milhões, já que também o ex-senador Luiz Estevão está pagando a indenização, conforme acordo feito ano passado, e está ressarcindo o Estado em parcelas de 4 milhões mensais. Estamos também mantendo o bloqueio de bens e patrimônio do senador até integral quitação dessa dívida", disse o ministro Luís Inácio Adams, da AGU (Advocacia-Geral da União).

Juca Varella - 23.jan.2001/Folhapress
Nicolau dos Santos Neto, na época em que estava na carceragem da Polícia Federal
Nicolau dos Santos Neto, na época em que estava na carceragem da Polícia Federal

OUTRO LADO

A defesa do ex-juiz Nicolau dos Santos Neto afirmou que as penas contra ele estão prescritas e o dinheiro remetido ao Brasil voltará para o patrimônio de Nicolau.

O advogado do ex-juiz, Francisco Pereira, disse que o governo terá apenas "a guarda" do dinheiro, que será devolvido após o julgamento de recursos nos tribunais superiores. O Ministério da Justiça, porém, afirmou que o valor já está no Tesouro.

O CASO

Em 1992, o TRT-SP iniciou licitação para construir o Fórum Trabalhista na Barra Funda (zona oeste da capital). A construtora Incal venceu a licitação e se associou ao empresário Fábio Monteiro de Barros.

Em 98, auditoria do Ministério Público apontou que só 64% da obra do fórum havia sido concluída, mas que 98% dos recursos haviam sido liberados.

A obra do fórum foi abandonada em outubro de 98, um mês após o então juiz Nicolau dos Santos Neto deixar a comissão responsável pela construção.

Uma CPI na Câmara investigou a obra em 99. A quebra dos sigilos mostrou pagamentos vultosos das empresas de Fábio Monteiro de Barros, da Incal, ao Grupo OK, do ex-senador Luiz Estevão.

Durante as investigações, foi descoberto um contrato que transferia 90% das ações da Incal para o Grupo OK.

O ex-senador teve o mandato cassado no ano 2000.

Em setembro do ano passado, a Justiça da Suíça autorizou a repatriação de US$ 6,8 milhões que estavam bloqueados, desde 1999, na conta do juiz aposentado.

BALANÇO

Nesta terça, a AGU divulgou balanço de suas atividades no combate à corrupção.

Além do dinheiro recuperado do ex-juiz Nicolau, o governo brasileiro conseguiu restituir R$ 2,5 bilhões, cerca de 20% do total que estima ter sido desviado em 15,3 mil ações na Justiça para reaver dinheiro público desviado.

Somente entre 2010 e 2012, foram bloqueados e penhorados bens e valores estimados em R$ 1,2 bilhão. O grupo de cobrança de grandes valores da Procuradoria-Geral Federal registrou R$ 1,3 bilhão em depósitos judiciais relacionados a infrações registradas por órgãos como Ibama e agências reguladoras.

O TCU (Tribunal de Contas da União) determinou a abertura de mais de 10,3 mil ações de improbidade e execução que, juntas, somam R$ 8 milhões. Foram propostas ainda 5.060 ações por improbidade para ressarcir R$ 1,4 bilhão desviados do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).

Editoria de Arte/Folhapress

Endereço da página: