Folha de S. Paulo


Presidente do Senado volta atrás e decide pagar R$ 32 mil por despesa com jato da FAB

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou nesta sexta-feira (5) que vai ressarcir aos cofres públicos a despesa referente à viagem que fez com sua mulher em avião da FAB (Força Aérea Brasileira) para ir a uma festa de casamento na Bahia.

De acordo com nota da presidência da Casa, serão pagos "R$ 32 mil --relativos ao uso da aeronave em 15 de junho entre as cidades de Maceió, Porto Seguro e Brasília, objeto de dúvidas levantadas pelo noticiário".

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Calheiros recuou de decisão tomada na quinta de não devolver o dinheiro gasto em viagem, num sábado, para participar de casamento da filha de Eduardo Braga (PMDB-AM), líder do governo na Casa. O episódio foi revelado ontem pelo "Painel" da Folha. O presidente do Senado não detalhou o motivo da mudança de posição.

Em nota, a assessoria de imprensa da Presidência da Casa diz ainda que, "sensível à nova agenda e aos novos tempos", o Senado vem fazendo "cortes substanciais de seus custos, eliminando redundâncias e ampliando a transparência e o controle social".

Na quinta (6), ele afirmou em entrevista e nota oficial que foi à festa dentro de "compromisso" como presidente do Senado e, como chefe de Poder, tem direito a usar a aeronave mesmo quando a viagem não é oficial.

O presidente do Senado disse ainda que pretende acionar o Conselho de Transparência e Controle Social da Casa para que ela se posicione sobre assunto, definindo de forma clara em que condições as aeronaves da FAB podem ser usadas por senadores.

Nessa sexta, disse, há uma "zona cinzenta em relação a isso [uso de aeronaves da FAB]. Temos que deixar claro o que é ou não legal". O valor a ser desembolsado será equivalente a despesas de passagem aérea, de ida e volta, entre Maceió (AL) e Porto Seguro (BA).

"Como é uma prática comum, é importante que a partir da transparência se tenha uma resposta positiva", disse.

Criado em abril deste ao, o órgão tem como tarefa tentar tornar as informações do Senado mais transparentes, especialmente aquelas relacionadas a gastos da instituição e dos parlamentares.

Na ocasião, ele convidou para integrar o conselho servidores da Casa e três representantes da sociedade civil: Cláudio Abramo, diretor da ONG Transparência Brasil, Maurício Azedo, presidente da Associação Brasileira de Imprensa e Jorge Abrahão, diretor-presidente do Instituto Ethos.

LEIA A NOTA NA ÍNTEGRA:

O Senado Federal, sensível à nova agenda e aos novos tempos, vem implementando cortes substanciais de seus custos, eliminando redundâncias e ampliando a transparência e o controle social.

Até aqui, para o biênio 2013/2014, foram economizados mais de R$ 300 milhões com a eliminação de redundâncias, revisão e extinção de contratos, redução de 25% dos cargos comissionados e enxugamento das estruturas internas da Casa.

Paralelamente, a nova direção do Senado Federal ampliou a transparência disponibilizando todas as informações relativas a gastos, contratos e despesas da Instituição. Só não estão disponíveis as informações protegidas pela própria lei.

O Senado Federal é o único a contar com um Conselho de Transparência com representantes da sociedade civil que não deixam dúvidas quanto aos propósitos da Casa de ser referência em controle social.

Desta forma, o senador Renan Calheiros está formalizando consulta ao referido conselho para que se manifeste sobre o uso da aeronave para cargos de representação.

Antecipadamente, o senador está recolhendo aos cofres públicos os valores - R$ 32 mil - relativos ao uso da aeronave em 15 de junho entre as cidades de Maceió, Porto Seguro e Brasília, objeto de dúvidas levantadas pelo noticiário.

O Senado Federal reitera seu compromisso de esgotar a pauta de votações elaborada consensualmente entre todos os líderes e que vão ao encontro das demandas da sociedade.

Foram votados, em menos de 10 dias, as novas destinações do FPE, endurecidas as punições para crimes de corrupção, ficha limpa para servidores públicos, a lei do simples para advocacia, royalties para educação e saúde, a responsabilização de empresas envolvidas em corrupção e o fim do voto secreto para julgamento de senadores e deputados.

Estamos realizando sessões de votação também às segundas e sextas-feiras de forma a conferir agilidade e objetividade aos anseios expostos pela sociedade.

Nos próximos dias, estaremos votando a lei do passe livre, a extinção foro privilegiado para deputados e senadores, a eliminação da aposentadoria como pena disciplinar de magistrados e promotores condenados por corrupção ou crime, a diminuição da exigência para apresentação de leis de iniciativa popular, recursos para saúde e educação, a carreira de médico que serão contratados e o combate à tortura.

São ações e práticas que a sociedade cobra e espera do Congresso Nacional. Elas não serão, no mérito ou na agilidade, embaçadas ou prejudicadas por quaisquer diversionismos políticos.

OUTROS CASOS

A Folha revelou hoje que o ministro Garibaldi Alves Filho, da Previdência Social, viajou ao Rio em avião da FAB para ver o jogo do Brasil. No dia 28 de junho, Garibaldi foi a Fortaleza em agenda oficial. Em vez de voltar a Brasília, ele voou para o Rio, onde assistiu à partida no domingo. "Me senti no direito de o avião me deixar onde eu quisesse ficar", afirmou o ministro

Garibaldi é primo do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que usou outro avião da FAB para ver o jogo da seleção. A Folha revelou na quarta-feira (3) que Alves levou sete convidados de Natal para o Rio. Glauber Gentil, que foi para o Rio com Garibaldi, pegou carona com Alves para voltar a Natal.

No mesmo dia, o presidente da Câmara disse que errou ao permitir que sete parentes pegassem carona em um avião da Fab para assistir ao jogo da seleção e devolveu à União R$ 9.700, segundo ele, equivale em bilhetes comerciais à carona dada a parentes em avião oficial.

Cotação com empresas de fretamento mostra que esse custo seria de ao menos R$ 158 mil.

Numa reação ao uso de aviões da FAB (Força Aérea Brasileira) pelos presidentes da Câmara e do Senado para compromissos particulares, congressistas defenderam ontem maior transparência na divulgação dos voos de autoridades pela Aeronáutica.

Na Câmara, o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) apresentou projeto que obriga o Executivo a divulgar, inclusive no Portal da Transparência, não apenas os pedidos de viagens em aviões da FAB, mas a data, o motivo e a lista de passageiros.

Luciano Veronezi/Editoria de Arte/Folhapress

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