Folha de S. Paulo


PT adota estratégias para tentar se aliar às manifestações de rua

Embora hostilizados nas recentes manifestações de rua, integrantes do PT e do PC do B não desistiram da tática de se aliar aos protestos, em cumprimento à orientação dada há duas semanas pelo presidente do PT, Rui Falcão (SP).

Pelo microblog Twitter, Falcão conclamou a militância a ir para as ruas --depois o post foi apagado.

Há duas estratégias em curso, segundo petistas ouvidos pela Folha. A primeira, adotada pelos militantes anônimos principalmente da Juventude do PT, consiste no comparecimento às manifestações convocadas pela internet, ainda que sem camisetas e bandeiras do partido.

A tática tem como objetivo inserir, nas manifestações de rua sem ligação com o PT, temas de interesse do partido, como "reforma política" e "democratização da mídia". Um dos objetivos perseguidos é reduzir as críticas ao governo federal que pontuam as atuais manifestações.

A segunda estratégia é participar às claras de atos paralelos, como o organizado pelas cinco centrais sindicais para o próximo dia 11.

O protesto foi anunciado após uma reunião mantida em São Paulo entre os sindicalistas e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A página criada no Facebook para a "greve geral" pelo usuário "A CUT pode mais" registrava nesta quarta-feira 2.564 confirmações, ante 37.375 convites.

No último final de semana, os organizadores distribuíram a pauta da manifestação. O primeiro ponto é o fim do fator previdenciário, um cálculo criado em 1999 no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) que, segundo os sindicalistas, gera danos aos aposentados. Os sindicalistas também pedirão mais verbas para educação e saúde, redução da jornada de trabalho para 40 horas sem redução de salário e reforma agrária, dentre outros pontos.

A Juventude do PT se aliou ao protesto. Membros do grupo também participaram de um ato realizado na última quinta-feira na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. A UNE (União Nacional dos Estudantes) e a Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) pretendiam reunir perto de 10.000 estudantes, mas chegaram a apenas 2.000, segundo o cálculo da Polícia Militar.

A presidente da UNE, Virgínia Barros, filiada ao PC do B, disse que "não impedirá" a participação das Juventudes do PT e do PC do B nos atos convocados pela entidade. Antes do protesto, representantes de partidos e da UNE se reuniram na sede da CUT em Brasília para discutir detalhes da manifestação.

"A UNE não é contra partidos políticos, a gente acha que eles são úteis para democracia", disse Virgínia.

Durante o protesto de quinta-feira, manifestantes de esquerda ao microfone pediram verbas para a educação, mas também reclamaram da mídia e do "monopólio das comunicações", temas caros ao petistas.

Integrantes da Juventude do PT compareceram ao ato da UNE com camisetas do partido e não houve hostilidade. O estudante de Maringá Yagor Assis, 20, disse que seus colegas têm procurado participar dos eventos em todo o país. Ele diz que a eventual crítica ao governo petista "é algo totalmente genuíno e aceitável".

O secretário da Juventude do PT em Brasília, Juliander Alves, o "Xereta", disse que não há contradição no fato de a legenda protestar contra o governo do próprio partido.

"Não é uma crítica ao ministro da Educação nem à presidente da República. Pelo contrário, a marcha pode ser um dos instrumentos que dê condições para que as reformas sejam feitas", disse Alves.

"A gente tem que se concentrar mais na reforma política", disse o dirigente do PT. Ele afirmou que membros da Juventude do PT estão participando dos protestos no Distrito Federal e são orientados pelo comando partidário a continuar nas ruas, ainda que sem camisetas e bandeiras.

Secretário de comunicação e ex-presidente do PT-DF, Raimundo Junior disse que o partido pretende reforçar, nas manifestações, temas que como a democratização da mídia, sem "discutir conteúdo" ou propor censura, e a reforma política. Ele disse que militantes do PT têm ido às reuniões de organização dos protestos, e que a recepção não tem sido ruim, ao contrário do que se viu nas ruas de São Paulo há duas semanas, onde bandeiras de partidos foram queimadas.

"Não está tendo hostilidade. As pessoas [do PT] vão lá, fazem as intervenções, defendem seus pontos de vista. Não é uma intervenção organizada, em nome de partido, mas é no mesmo sentido de retirar as hostilidades", disse Raimundo Junior.

O universitário Edemilson Paraná, do B&D Brasil e Desenvolvimento, grupo de acadêmicos que participou, com outras entidades, da organização do primeiro protesto em Brasília contra os gastos na Copa do Mundo, no último dia 14, confirmou que petistas participaram de uma reunião na sede da CUT, na segunda-feira da semana passada, entre militantes de partidos de esquerda e representantes dos protestos.

O B&D, que se declara desvinculado de partidos políticos, enviou um representante para a reunião, mas nada ficou acertado sobre eventual participação de partidos. Segundo Paraná, a tentativa do PT e outros partidos de se integrarem às manifestações é ainda "muito frágil", e a posição dos manifestantes continua sendo a de não aceitar vínculos com partidos políticos.

Outras entidades ligadas à esquerda anunciaram que vão participar do movimento convocado pelos sindicalistas para o dia 11.

Em entrevista ao jornal "O Dia", do Rio, o líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) João Pedro Stedile relatou: "Fizemos duas plenárias nacionais em São Paulo, com as centrais sindicais e todos os movimentos sociais. Unificamos uma só plataforma de temas".

"Essa convocatória das centrais sindicais e de todos movimentos sociais brasileiros para paralisarmos o país dia 11 de julho é fundamental", afirmou Stedile.


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