Folha de S. Paulo


Marcha vira ato de desagravo a Feliciano e público vaia Dilma

O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) compareceu na 21ª edição da Marcha para Jesus, megaevento evangélico que tomou as ruas de São Paulo neste sábado (29). Ao subir ao palco e anunciar que falava em nome da presidente Dilma Rousseff, o público soltou uma vaia.

Carvalho também recebeu aplausos no meio da fala, e, antes de se retirar, comentou sobre a vaia. "Eu acho a coisa mais normal do mundo. É próprio da democracia as pessoas se manifestarem em apoio ou em vaia."

Indagado sobre a pesquisa Datafolha divulgada neste sábado (29), que mostra que a popularidade da presidente Dilma Rousseff desmoronou 27 pontos em três semanas, o ministro afirmou que não iria se manifestar, pois ainda não havia lido sobre a pesquisa.

A PM estima que, por volta das 15h, o público era de cerca de 400 mil pessoas.

A marcha também virou um ato de desagravo ao pastor Marco Feliciano (PSC-SP). Deputado federal, ele preside a Comissão de Direitos Humanos da Câmara e entrou na mira de manifestações em todo o país em razão de o colegiado ter aprovado projeto que permite a chamada "cura gay", tratamento psicológico à homossexualidade.

FELICIANO

Feliciano disse que pretendia dar uma resposta aos seus críticos. Ele acrescentou à camiseta oficial do evento os dizeres "eu represento vocês".

Do alto do trio elétrico principal da passeata, Feliciano afirmou: "Eu represento um segmento conservador da sociedade, um segmento família da sociedade. Esses aqui eu represento".

O congressista afirmou que ele está sendo injustamente responsabilizado pela projeto da chamada "cura gay".

Ele afirma que apoia a proposta, mas não é o autor dela e tinha a obrigação de colocá-la em discussão como presidente da Comissão de Direitos Humanos.

Ele fez uma oração para o público durante o evento na qual procurou enaltecer "os valores da família".

No meio da marcha podiam ser vistas faixas alusivas às recentes manifestações ocorridas no país. Entre os dizeres havia "Justiça! Queremos os mensaleiros na cadeia", "Manifestação pacífica tem limite", "Fora baderna e vandalismo" e "Procurando Lula".

Havia também mensagens sobre o tema da "cura gay": "Os ativistas gays querem ser donos dos homossexuais. Direitos Humanos Já!". Essas faixas eram exibidas por pessoas que se identificaram como integrantes da Assembleia de Deus do Rio de Janeiro.

A assessoria de imprensa da Polícia Militar informou que não iria fazer estimativa oficial de público da passeata. Oficiais da corporação ouvidos pela Folha no trajeto estimaram que o público era de 40 mil pessoas na primeira hora do evento, que começou às 10h.

Indagado pela reportagem, o líder da Igreja Renascer em Cristo, organizadora do evento, apóstolo Estevam Hernandes, não quis arriscar uma avaliação sobre o total de participantes. Até a conclusão desta edição, não havia registro de incidentes graves durante a marcha.

Durante o discurso o deputado de Campos Machado (PTB), o o público gritou no nome do Feliciano.

POLÊMICA

Aprovado na Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o projeto que permite aos psicólogos promover tratamento com o objetivo de curar a homossexualidade precisa passar ainda por outras duas comissões da Casa: Seguridade Social e Constituição e Justiça. Caso passe em ambas, seguirá para o plenário da Câmara.

O governo, contudo, tem se mostrado contrário à medida. A ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) chegou a dizer que trabalharia para impedir a aprovação do texto no Congresso Nacional, o que gerou protestos da bancada evangélica.


Endereço da página:

Links no texto: