Alvo de protestos nas ruas, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Marco Feliciano (PSC-SP), começou a fazer um corpo a corpo entre os colegas para evitar que o projeto conhecido como "cura gay" seja votado diretamente pelo plenário.
Em conversa com parlamentares, eles se mostrou preocupado com a manobra para evitar que o projeto que permite aos psicólogos oferecem tratamento a homossexualidade não passe por votações nas comissões de Seguridade Social e Constituição e Justiça.
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Feliciano alega aos colegas que pode haver uma tensão entre grupos religiosos e ativistas de movimentos gays. "Ele está preocupado com um conflito entre as entidades religiosas e os ativistas se o projeto for diretamente ao plenário", disse o deputado Protógenes Queiroz (PC do B-SP).
Integrante da CCJ da Câmara, Protógenes disse que vai apresentar um requerimento para garantir que o texto passe pela comissão. Ele afirmou, no entanto, que é contra a proposta.
"Acredito que essa matéria seja inconstitucional, mas regimentalmente tem que passar pela comissão", afirmou. "A questão da homossexualidade é uma realidade brasileira e precisa ser debatida".
Na Câmara, líderes articulam levar o projeto diretamente para o plenário, sem passar por outras duas comissões. O projeto foi aprovado na semana passada na Comissão de Direitos Humanos sob o comando de Feliciano. A medida poderia ser incluída na "agenda positiva" criada pelo Congresso para dar uma resposta às manifestações, mas não há consenso. Alguns lideres, alinhados com a bancada evangélica, resistem em dar fôlego à manobra.
EXPLICAÇÕES
Diante da repercussão nas ruas, Feliciano gravou um vídeo de 18 minutos em tom de desabafo e em sua defesa. Na fala, ele acusa a mídia e ativistas gays de distorcerem o projeto, além de explicar que defende o debate da homossexualidade somente por psicólogos.
"Apelidaram erroneamente de 'cura gay'. Ele [projeto] não é meu. Eu não criei esse projeto", afirma. O deputado disse ainda que não há intenção de promover nenhum tipo de cura para a homossexualidade. "Não existe cura para o que não é doença".
Feliciano disse que pautou a votação da proposta porque a Comissão de Direitos Humanos é "vazia de projetos". "Eu não votei nem 'sim' nem 'não' porque sou presidente da comissão. Eu coloquei em votação porque é o único projeto que tinha relatoria pronta. A comissão sempre foi vazia, não tem projeto nenhum".
Na avaliação do deputado, há uma campanha contra ele. "Ativistas e boa parte da imprensa de maneira irresponsável tentam jogar as pessoas contra comissão e a bancada religiosa. Isso é preconceito religioso".
"Não sou criminoso, não sou ficha-suja, não estou nessa questão do mensalão, sou apenas um deputado, pai de família e pastor", completou.
Para o deputado, ele se transformou num "bode expiatório e num grande vilão", para esconder o descontentamento dos brasileiros com a situação geral do país.
"É desonestidade intelectual, mentem deslavadamente, descaradamente. Há três meses o Brasil já estava para explodir".
Sem citar o nome da cantora Daniela Mercury, o deputado diz que tem sido hostilizado por ela e que "não estamos falando em tratamento, estamos falando do profissional que tem direito de tratar do assunto".