Folha de S. Paulo


Manifestantes protestam com bolas e cruzes em frente ao Congresso

Depois de ocupar as ruas em protesto por melhorias nos serviços públicos e contra a corrupção, um grupo de manifestantes pretende nesta quarta-feira (26) passar simbolicamente aos parlamentares a responsabilidade pelas mudanças exigidas pela população. Para isso, eles posicionam 594 bolas de futebol no gramado em frente ao Congresso Nacional.

De acordo com o presidente da ONG Rio de Paz, responsável pelo ato, Antônio Carlos Costa, as bolas representam os 594 deputados e senadores.

"A ideia é passar a bola para o Congresso, saber o que ele vai fazer a partir de agora. Queremos um Legislativo que fiscalize o Executivo, mas não o boicote, que desengavete projetos de lei de grande interesse popular e que não se sujeite a lobbies que visam apenas ao interesse próprio e não da nação", explicou Costa.

Ele disse ainda que entre as reivindicações do grupo está o afastamento do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), do cargo até que o Supremo Tribunal Federal (STF) se pronuncie sobre as acusações que ele sofre de peculato, falsidade ideológica e uso de documento falso. Além disso, os manifestantes querem compromissos mais concretos por parte das autoridades em relação à segurança pública.

Costa ressaltou que as 594 bolas, que receberão cruzes pintadas em vermelho ao longo do dia, também simbolizam o número de assassinatos que ocorrem no país. Segundo estimativa da entidade, 550 brasileiros morrem dessa forma a cada quatro dias.

"Estamos vivendo um momento histórico no Brasil, em que, pela primeira vez, o fator medo está sendo observado nos governantes. Eles estão com medo do povo e é preciso aproveitar este momento para promovermos uma reforma profunda no país, no modo de fazer política", destacou. "Queremos um Brasil padrão Fifa", acrescentou.

Ainda como parte da mobilização, está previsto para as 17h30 um chute coletivo das bolas posicionadas no gramado em direção ao Congresso.

Ato semelhante foi feito no sábado (22) no Rio de Janeiro, quando 500 bolas foram fincadas, também por voluntários ligados à ONG, na praia de Copacabana, na zona sul.

CRUZES

Líderes do recém-criado Movimento 139 também realizam ato em frente ao Congresso. Eles usam cruzes de papel para pedir o fim da corrupção no país e reivindicam que parlamentares apreciem com urgência todas as proposições ligadas ao tema que tramitam nas duas Casas Legislativas. Presidente do movimento, o servidor público Diogo Araújo, 24, enfatizou que é preciso aproveitar o "momento histórico" para avançar no combate aos malfeitos na administração pública.

"As cruzes representam os 139 projetos engavetados no Congresso, alguns há mais de 15 anos, que tratam do combate à corrupção. Entre os principais estão o que prevê o aumento de penas para crimes contra a administração pública e o que torna imprescritíveis os crimes de corrupção", disse, enquanto fincava no gramado os palitos em que estavam presas cruzes de papel, feitas artesanalmente com a ajuda de dois amigos.

"Vamos continuar pressionando o Congresso até que todos eles [os projetos] sejam aprovados. Podemos continuar indo às ruas, temos pautas claras e, por isso, podemos pressionar", acrescentou. O grupo também reivindica a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Copa, para investigar os gastos com o evento, principalmente os relacionados à construção dos estádios e às obras de infraestrutura.

Em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão, na sexta-feira (21), a presidenta Dilma Rousseff explicou que as arenas para a Copa do Mundo são construídas com financiamentos de bancos oficiais, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a empresas e a governos, e garantiu que o dinheiro gasto com esse objetivo não compromete os recursos para a saúde e a educação.

A professora mineira Kátia Fagundes, 37, que visita Brasília, aproveitou o passeio turístico à Esplanada dos Ministérios na manhã de hoje para ver de perto as manifestações pacíficas que ocupam dois pontos do gramado em frente ao Congresso. Segundo ela, a mobilização popular é justa e precisa ser mantida com responsabilidade.

"É justo todo este movimento, o país estava precisando. Somos um país grande, de lutadores, e acredito que estamos renascendo das cinzas. É um momento de esperança para toda a nação", disse.


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