Folha de S. Paulo


'Se estivesse tudo bem, eu não precisava estar aqui', diz Ideli

A ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) voltou a negar nesta sexta-feira (14) que haja crise na interlocução do governo com o Congresso, mas admitiu que se trata de uma relação difícil.

Em uma espécie de balanço sobre seu último semestre à frente do ministério, afirmou que seu cargo é uma "profissão de risco" e queixou-se que, nas negociações do governo, "sempre sobra" para ela.

"Outro dia eu brinquei, não me lembro agora quem foi que entrou na minha sala e perguntou 'Tudo bem'? Se estivesse tudo bem, eu não precisava estar aqui", comentou a ministra.

Segundo ela, "articulação é justamente para equacionar que as coisas andem bem". "É um trabalho permanentemente tensionado, você faz a intermediação, a interlocução, você viabiliza o que tem possibilidade de viabilizar, dá as condições de negociar o que é possível, e sempre sobra pra mim", disse.

A declaração vem depois de a Folha mostrar nesta sexta-feira que o Palácio do Planalto decidiu reformular o sistema de execução das obras patrocinadas por deputados e senadores por meio de emendas.

Agora, ministros e líderes dos partidos aliados indicarão quem receberá a verba e, em contrapartida, terão a missão de cobrar do beneficiado fidelidade ao governo nas votações do Congresso.

A decisão deve enfraquecer a já fragilizada posição de Ideli, que é quem discute com a equipe econômica a liberação das verbas. Parlamentares põem na conta da ministra a intransigência do governo e acusam o Planalto de quebrar acordos e não liberar emendas --como no caso da votação da MP dos Portos, tida por Ideli como o momento mais "tenso" do ano.

Edson Silva13.jun.13/Folhapress
A ministra de relações Institucionais Ideli Salvatti
A ministra de relações Institucionais Ideli Salvatti, que nega que haja crise na interlocução do governo com o Congresso

"Liberação de emenda tem todo ano, que nem inverno e verão. Depende obviamente das condições climáticas. E qual foi a condição climática neste ano? Nós não tivemos aprovação do Orçamento no final do ano, foi aprovado no início do ano legislativo. Nós tivemos um atraso de aproximadamente três, quatro meses."

Ela disse que não vê "novidade" nessa decisão do Planalto em redistribuir tarefas de interlocução com o Legislativo.

"A tarefa da Secretaria de Relações Institucionais ela tem uma dificuldade de compreensão. (...) Há uma série de reclamações que dizem respeito ao conjunto. É parlamentar reclamando que ministro não recebe a questão das audiências, que o ministro vai para o Estado e o parlamentar não é avisado", declarou.

Para ela, fazer a articulação política não é tarefa exclusivamente sua, mas compartilhada com os ministros de todos os partidos. Disse, contudo, que "sempre a Secretaria de Relações Institucionais é vista como que a responsável quase que exclusivamente com a relação 'congressual'".

Questionada qual é o quadro que o governo aguarda após a queda na popularidade de Dilma, a ministra disse apenas que, "neste governo, a única coisa que a gente espera é trabalhar mais".


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