Folha de S. Paulo


Análise: Presidente ainda tem muitos botões para apertar até 2014

O programa que Dilma Rousseff lança hoje é um dos muitos botões que o governo terá para apertar até 2014.

Ao beneficiar milhões de brasileiros de baixa renda com o que pode ser chamado de Meu Micro-Ondas, Minha Vida, a presidente espera neutralizar os reveses provocados pelo baixo crescimento econômico e uma taxa de inflação indômita.

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Se o efeito não for suficiente para estancar a queda de popularidade presidencial, outras medidas serão tomadas para assegurar a fidelidade do eleitorado das classes mais pobres, a espinha dorsal das eleições de Dilma (2010) e de Luiz Inácio Lula da Silva (2002 e 2006).

O cálculo eleitoral dilmista se equilibra em dois pilares principais. Primeiro, manter a sensação de bem-estar da maioria do eleitorado. Segundo, fixar o quanto for possível a imagem de "Dilma na cadeira da rainha", na expressão criada pelo marqueteiro João Santana --ou seja, difundir uma mensagem: se as coisas não vão bem, só Dilma será magnânima para cuidar melhor dos brasileiros.

Apesar do avanço da classe média, uma massa de eleitores ainda deseja comprar equipamentos básicos para suas casas. Luiz Inácio Lula da Silva interpreta como ninguém essa aspiração dos brasileiros mais humildes.

Um comercial de João Santana para o PT na TV, em abril, foi um jogral com Lula e Dilma na tela. Em poucos segundos, o ex-presidente e a atual deram a receita do que vai guiá-los na longa campanha presidencial já em curso.

Lula começa: "Os brasileiros já aprenderam"¦". Dilma emenda: ""¦Que é possível ter sempre mais". E Lula: "Depois da geladeira, a casinha, o carro...". A presidente completa: "A casa mais confortável, com transporte, posto de saúde e escola perto".

Os bilhões de reais colocados hoje à disposição dos participantes do Minha Casa, Minha Vida fazem parte da estratégia geral. Como serão beneficiadas milhares de pessoas, a Caixa Econômica Federal em breve estará nas TVs, em horário nobre, anunciando o crédito barato para quem quiser comprar geladeira e micro-ondas.

Não é à toa que a Caixa já passou as cervejarias e é a terceira maior anunciante do país. Só perde para Casas Bahia e Unilever.

Dilma não aparece nesses comerciais, pois é proibido. Mas nem é necessário. De tempos em tempos ela surge na propaganda do PT como a "rainha" imaginada por João Santana que ajuda os desvalidos a equipar suas casas.


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