Folha de S. Paulo


Homem que perdeu pai e casa em enchente ainda espera por promessa do governo de PE

Chovia forte naquela noite de junho de 2010, e o ajudante de serviços gerais José Amaro da Silva, 35, voltava para casa mais cedo do trabalho, preocupado em encontrar o pai, José Francisco da Silva, 72, que estava sozinho no local.

A água do rio Pirangi já alagava parte da cidade de Maraial (PE), e eles viviam na base de um dos morros da comunidade Tancredo Neves, na periferia da cidade de 12 mil habitantes.

Campos gastou em quatro cidades verba liberada para 41
Casas já doadas em Pernambuco são alugadas ilegalmente

Faltava luz no bairro, e José Amaro desceu no escuro as escadarias estreitas e escorregadias até chegar em casa. Lá, encontrou o pai no quarto, descansado.

Veja vídeo

Assista ao vídeo em dispositivos móveis

Minutos depois, a casa ruiu, arrastada por toneladas de lama e detritos que deslizaram da encosta. O servente conseguiu escapar, mas o pai dele morreu soterrado.

"Eu ouvi aquele estalo, aquele barulho, e pulei pela porta", disse José Amaro. "Vi aquela lama toda chegando, derrubando e cobrindo tudo. Meu pai não conseguiu sair e morreu asfixiado."

Sem ter mais onde morar, em 28 de agosto de 2010 ele fez seu cadastro no governo de Pernambuco, na Operação Reconstrução, para tentar receber uma nova casa.

Quase três anos depois, José Amaro não recebeu o benefício prometido às vítimas pelo governador Eduardo Campos (PSB) e continua vivendo no mesmo morro, agora numa casa de taipa.

Na área onde deveriam ser erguidas pelo menos 264 casas da Operação Reconstrução em Maraial, nada mais foi feito, conforme revelou a Folha no domingo. Gados das fazendas vizinhas passeiam no local.

O servente, que está desempregado, diz que ainda tem esperança de receber a casa, mas não sabe quando isso acontecerá. Nem mesmo a prefeita da cidade, Maria Marlúcia de Assis Santos (PSD), pode respondê-lo.

Segundo ela, um entrave burocrático envolvendo o governo do Estado a empreiteira impede o início das obras, e não há previsão de quando o impasse vai terminar.

"Meu sentimento é de dó dessas pessoas que perderam o que tinham e continuam assim", disse ela. A prefeita afirma que foi ao Recife para tentar uma solução, mas que até agora não houve resposta.


Endereço da página:

Links no texto: