Folha de S. Paulo


Arma que matou PC Farias sumiu do Fórum de Maceió, diz promotor

A arma que matou o empresário Paulo César Farias e a namorada Suzana Marcolino sumiu do Fórum de Maceió, afirmou o promotor Marcos Mousinho, que atua no julgamento dos quatro seguranças acusados do crime.

"Além da arma, sumiram também com os algodões que foram usados no exame resíduo gráfico nas mãos das vítimas", afirmou Mousinho, nesta quinta-feira (8).

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Itawi Albuquerque/Dicom/TJ-AL
Promotor Marcos Mousinho
Promotor Marcos Mousinho

Segundo ele, a arma sumiu durante a reforma do fórum, entre 2008 e 2010. O promotor diz que não sabe quando desapareceram os seis tubos de ensaio com os algodões.

De acordo com um dos seguranças, os tubos de ensaio com os algodões sumiram durante a fase do processo, quando o caso estava sendo investigado pelo juiz Alberto Jorge Correia de Barros Lima.

"Não sei se foi na fase do inquérito ou do processo que esse material sumiu", afirmou o promotor.

Mousinho disse que o prejuízo causado pelo sumiço da arma não é tão grande, porque a simulação pode ser feita com uma arma similar, mas em relação ao material coletado das mãos de PC e Suzana "a perda é total".

"Não dá para reexaminar esse material, que foi colhido pelos peritos de Alagoas, no dia do crime", comentou.

O juiz disse que não sabia que a arma do crime havia sumido, mas, para ele, isso não prejudica o julgamento dos seguranças. Com relação aos algodões, o magistrado afirmou que não se lembrava, mas que, se haviam sumido, havia sido na fase de inquérito.

O chefe do Centro de Custódia de Armas e Munições, Nelson Brandão, não quis comentar o sumiço da arma, porque não dirigia o setor naquela época.

De acordo com o juiz, várias armas sumiram do fórum durante a reforma do prédio, que foi interditado porque apresentava rachaduras. "Sumiram até com a aparelhagem do som do fórum", comentou Alberto Jorge.

BURACO DA BALA

Mousinho reclamou também da retirada de parte da parede do quarto por onde passou o tiro que matou Suzana. "A perícia feita pela segunda equipe de peritos só não foi mais prejudicada porque eles tiveram acesso às informações contidas no primeiro laudo", comentou o promotor, referindo-se ao laudo assinado pela equipe chefiada pelo perito Fortunato Badan Palhares.

O promotor ainda reclamou da presença de curiosos na cena do crime, antes mesmo da chegada da perícia.

Ele comentou a informação da perita criminal Anita Buarque sobre a presença do delegado Cícero Tores na cena do crime, antes de ele ser nomeado para investigar o caso.

"Não é papel de delegado revirar o corpo do morto, isso é trabalho da perícia", disse Mousinho.

O delegado que comandou a primeira fase das investigações e chegou à conclusão de crime passional.

Mousinho contesta essa versão. Para ele, houve duplo homicídio. "Sei que vai ser difícil apontar uma terceira pessoa na cena do crime, mas as provas nos autos são robustas para duplo homicídio e raquítica para crime passional", observou.

Além de Cícero Torres, a perita Anita disse que quando chegou na casa e praia do empresário já estavam o então secretário de Segurança Pública de Alagoas, coronel Antônio Amaral, e o então secretário estadual de Justiça, Rubens Quitela.

"Quando eu cheguei à casa de praia, o secretário de segurança estava conversando com o deputado Augusto Frias", disse, referindo-se ao irmão de PC.

O CASO

Tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor em 1989, PC Farias foi o articulador do esquema de corrupção no governo denunciado à época.

Segundo a Promotoria, a morte de PC foi investigada como "queima de arquivo", pois ele era acusado de sonegação de impostos e enriquecimento ilícito e poderia revelar outros envolvidos.

Os PMs Adeildo dos Santos, Reinaldo de Lima Filho, Josemar Faustino dos Santos e José Geraldo da Silva são acusados de participação nas mortes ou, no mínimo, de omissão ao não evitá-las, já que eram seguranças de PC.

"A tese do suicídio de Suzana foi descartada pelos peritos", disse o promotor Marcos Mousinho, em referência às primeiras conclusões da polícia, em 1996, de que Suzana havia matado PC por ciúme e, depois, se suicidado.

Investigações posteriores mostraram que o primeiro laudo, do legista Badan Palhares, considerava Suzana mais alta do que realmente era --ponto crucial para compreender o disparo. Palhares sempre defendeu seu laudo.

Em 1999, a Folha publicou fotos que comprovaram que Suzana era mais baixa que PC.


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