Folha de S. Paulo


Ex-seguranças de PC Farias devem ser ouvidos no 4º dia de julgamento

Os quatro ex-seguranças de Paulo César Farias, acusados de envolvimento na morte do empresário e da namorada dele, Suzana Marcolino, em 1996, devem ser ouvidos nesta quinta-feira (9), quarto dia de julgamento.

A sessão começou às 8h43, com o depoimento do perito Domingos Tochetto.

Perito diz ter certeza que namorada matou PC Farias
Delegados negam acordo com irmão de PC Farias e mencionam suborno

Pela manhã, a previsão é que o juiz Maurício Breda ouça outros dois peritos responsáveis pelo segundo laudo, Daniel Muñoz e Genival Veloso. Esse segundo documento, elaborado pela USP (Universidade de São Paulo) em 1999, conclui que houve um duplo homicídio naquele 23 de junho de 1996.

O primeiro laudo, elaborado em 1996 por 11 peritos de Alagoas e da equipe legista Badan Palhares, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), concluiu que houve um homicídio seguido de suicídio. Ou seja, Suzana matou PC Farias e depois suicidou-se.

Ponto-chave das investigações posteriores foi a análise sobre a altura de Suzana --crucial para avaliar o disparo.

Em 1999, a Folha publicou fotos que comprovaram que Suzana tinha no máximo 1,57 m, enquanto Badan considerara 1,67 m, embora não tenha registrado isso em seu laudo. Ontem, Badan admitiu "lapso" ao não incluir a informação, mas procurou defender a tese do 1,67 m.

A defesa dos réus chegou a pedir a suspensão do depoimento dos peritos nesta quinta-feira, afirmando que o Ministério Público reuniu-se com eles, o que foi considerado por ela "inadmissível". O Ministério Público disse que conversou apenas amenidades. O juiz negou o pedido da defesa.

O depoimento dos três períodos deve acontecer durante a manhã. À tarde, devem falar os policiais militares Adeildo dos Santos, Reinaldo de Lima Filho, Josemar Faustino dos Santos e José Geraldo da Silva, que faziam a segurança do empresário e ex-tesoureiro da campanha de Fernando Collor de Mello, em 1989.

A Promotoria defende a tese de que os ex-seguranças são coautores do duplo homicídio qualificado por omissão, já que nada fizeram para impedir o crime.

Com o depoimento dos ex-seguranças, o julgamento caminha para a reta final. Após a fala de cada um dos quatro réus --que serão questionados pelo juiz, pela acusação e pela defesa--, é a vez dos promotores e dos advogados de defesa falarem. Primeiro fala a acusação, depois a defesa. Ainda pode haver réplica e tréplica.

Somente depois dessa fase é que os jurados são recolhidos a uma sala isolada e respondem a um questionário elaborado pelo juiz, decidindo se os réus são culpados ou inocentes. Se forem culpados, o juiz calcula a pena e a lê no plenário, onde também será comunicada uma eventual inocência dos ex-seguranças.

Há possibilidade de que o julgamento se arraste até sábado (11).

Editoria de arte/Folhapress
Laudos morte PC Farias

3º DIA

Ontem o juiz Maurício Breda ouviu os peritos responsáveis pelo primeiro laudo.

Para eles, não há dúvida de que Suzana matou PC e depois se matou, ao lado dele.

No entanto, os dois primeiros peritos que examinaram os corpos disseram que o exame de resíduos feito nas mãos do casal não é conclusivo.

Anita Gusmão, do Instituto de Criminalística de Alagoas, disse que o método usado à época, o exame de Griess, é "primário" e caiu em desuso porque "deixava a desejar".

Nele, o resultado nas mãos de Suzana deu positivo para pólvora e negativo para as mãos do tesoureiro da campanha de Fernando Collor em 1989 --PC foi o operador do esquema de corrupção que levou ao impeachment do então presidente em 1992.

O perito Nivaldo Cantuária, que repetiu o exame no IML, afirmou que o exame pode dar "falso positivo". "Atualmente, não [é confiável]. Existem outros métodos que pesquisam outros componentes." Perícia da equipe de Palhares apontou chumbo e nitrato nas mãos de Suzana e de PC.

Em um depoimento de 2h30, o mais longo até o momento, Palhares disse ter "certeza absoluta" que Suzana matou PC e depois se suicidou. "O local do crime define por si só que aquilo foi um homicídio seguido de suicídio."

A distância dos tiros, as manchas de sangue, a trajetória das balas, a ausência de agressões e a porta trancada por dentro do quarto são alguns dos elementos para justificar a análise, disse.

Além dos peritos, o juiz ouviu cinco testemunhas. A ex-cunhada de PC Farias Eônia Bezerra evitou acusar Augusto Farias, irmão de PC, e seguiu a tese de crime passional defendida por ele.

Os delegados Alcides Andrade e Antônio Carlos Lessa rebateram a acusação feita por Augusto de que teriam tentado negociar o não indiciamento dele. A dupla afirmou também que um porta-voz da família Farias teria tentado subornar um deles.

Anna Marcolino, irmã de Suzana, negou que ela tivesse tendência ao suicídio. (DANIEL CARVALHO, NELSON BARROS NETO, RICARDO RODRIGUES)


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