Folha de S. Paulo


Fabiano Maisonnave: Cristo Redentor é o grande ausente do roteiro papal

Fiel à proposta de "uma igreja para os pobres", mas respeitando as limitações do Rio, o papa Francisco visitará uma favela "pacificada", um hospital e se reunirá com adolescentes infratores, além de celebrar missa para centenas de milhares de fiéis.

Por outro lado, o Cristo Redentor, símbolo máximo da cidade, será a grande ausência do roteiro minuciosamente detalhado pelo Vaticano, que não inclui nenhuma atração turística.

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Chama a atenção que o encontro de Francisco com cinco adolescentes seja no Palácio São Joaquim, residência do arcebispo, e não no Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase), com histórico de rebeliões e fugas.

Para comparar: em Roma, durante a quinta-feira de Páscoa, Francisco visitou a unidade de internação Casal de Marmo, onde se reuniu com 46 jovens infratores, continuando uma prática que fazia na Buenos Aires natal.

Já a escolha da favela de Varginha, na zona norte, ocorreu em detrimento da vizinha Mandela de Pedra, ainda mais pobre, porém de acesso precário por causa das vielas estreitas.

Muitos cariocas ficarão decepcionados com a falta do Corcovado, onde a visita já vinha sendo preparada. Deixará de repetir João Paulo 2º em 1980, quando abençoou a cidade aos pés do Cristo.

SOMENTE UM SOBREVOO

Francisco somente sobrevoará o monumento no último dia, com transmissão ao vivo pela TV do Vaticano.

Há também um quê de decepção em Aparecida (SP), onde o arcebispo Raymundo Damasceno Assis tinha a expectativa de uma visita que incluísse uma missa campal para até 400 mil pessoas. Em vez disso, será na basílica, para "apenas" 30 mil pessoas.

O objetivo da programação mais simples e de apenas algumas horas seria não esvaziar o evento da Jornada Mundial da Juventude no Rio.

Ontem à tarde, horas depois da divulgação do roteiro, Damasceno Assis afirmou que ainda tinha a esperança de uma missa campal na cidade, provavelmente apelando para outra característica do novo papa, o improviso e a quebra de protocolo.

Suas tradicionais improvisações, aliás, têm provocado dor de cabeça em Roma. Para os que farão a segurança no Rio, onde uma visita papal foi o pano de fundo para o filme "Tropa de Elite", quanto mais próximo do relativamente seguro roteiro oficial, melhor.


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