Folha de S. Paulo


Ex-namorada de irmão de PC Farias diz não ter visto seguranças durante jantar

A advogada Milane Maia de Souza Valente, ex-namorada do irmão de Paulo César Farias, disse em depoimento nesta terça-feira (7) que não viu os seguranças acusados de envolvimento na morte do empresário durante o jantar em sua casa de praia.

Ela ainda afirmou que o ex-namorado Augusto Farias patrocina a defesa dos réus e disse já ter sido ameaçada por telefone.

Valente foi a primeira testemunha a depor no segundo dia do julgamento dos ex-seguranças acusados de envolvimento na morte de PC Farias, tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor de Mello, e sua namorada na época, Suzana Marcolino.

Milane participou do jantar na casa de praia e foi uma das últimas pessoas a ter contato com PC Farias e a namorada dele, encontrados mortos no quarto, na manhã do dia 23 de junho de 1996.

"Não vi nenhum segurança [no dia do jantar]", afirmou Milane Valente, ao ser interrogada pelo juiz.

Os policiais militares Adeildo dos Santos, Reinaldo de Lima Filho, Josemar Faustino dos Santos e José Geraldo da Silva trabalhavam como seguranças de PC Farias e são réus no julgamento, segundo a Promotoria, no mínimo, por omissão.

Segundo a ex-namorada de Augusto, é ele quem financia as custas do advogado dos PMs por acreditar na inocência deles.

Augusto Farias deve prestar depoimento nesta terça-feira (7).

Milane disse que ela e Augusto chegaram à casa de praia uma hora antes de Suzana. "A gente ficou conversando com ele [Paulo]. Depois de um tempo ela chegou, ficou conversando com a gente. O Cláudio Farias [irmão de PC, já morto] se retirou um pouco antes [do jantar]", afirmou.

A advogada disse que o Augusto, com quem namorou até quatro meses depois do crime, não tinha "nenhuma admiração" por Suzana e que ela estava se relacionando com PC Farias "com o objetivo de crescer na vida". "Ele achava que era uma pessoa que estava visando se beneficiar com o irmão", disse.

Milane Valente descreveu Suzana Marcolino como uma mulher "ciumenta" e que tinha "comportamento de rompantes".

Ela disse que o ex-namorado tinha uma relação de "pai e filho" com PC Farias e que sempre defendeu a tese de que Suzana matou Paulo César Farias e depois se suicidou, o que é descartado pela Promotoria.

Editoria de Arte/Folhapress

AMEAÇAS

Durante o depoimento, que durou cerca de uma hora, Milane disse que já recebeu ameaça por telefone depois do crime.

"Uma voz em espanhol dizia 'tenha cuidado. Você vai ser a próxima'", disse a advogada.

Segundo ela, Augusto Farias propôs que mudasse o número do celular, o que diz ter sido necessário, já que houve apenas um episódio de ameaça contra ela.

JULGAMENTO

Neste momento está sendo ouvido Manoel Alfredo da Silva, vigia da casa de praia na época do crime.

O próximo a falar é o irmão de PC Farias. Augusto foi indiciado sob suspeita de ser o mandante do crime. Como tinha foro privilegiado à época por ser deputado, o inquérito contra ele foi parar no STF (Supremo Tribunal Federal) e foi arquivado por falta de provas, em 2002.

Ontem, antes do início do primeiro dia de julgamento, Augusto Farias acusou os delegados da segunda fase do inquérito, Antônio Carlos Lessa e Alcides Andrade, tentarem negociar com ele o indiciamento apenas dos quatro ex-seguranças: os policiais militares Adeildo dos Santos, Reinaldo de Lima Filho, Josemar Faustino dos Santos e José Geraldo da Silva.

Lessa disse a Folha que tem um "pacto" com Andrade para não comentar mais o assunto.

1º DIA

Na segunda-feira, primeiro dia de julgamento, prestaram depoimento Leonino Carvalho, caseiro da casa de praia, e Genival da Silva França, que trabalhava como garçom no local.

Leonino disse ter recebido ordens do ex-sargento da PM e ex-chefe da segurança de PC Farias, Flávio Almeida, para queimar o colchão onde os corpos foram encontrados, o que acabou alterando a cena do crime.

Genival disse que Almeida deu a ordem após autorização do primeiro delegado do caso, Cícero Torres.

Torres foi afastado do caso depois que o laudo utilizado por ele para embasar a tese de crime passional foi invalidado.

A Promotoria descarta a tese de que Suzana tenha matado PC e depois se suicidado, como é sustentado pela defesa dos réus. A acusação afirma que o caso foi um crime de mando, mas nunca chegou a um mandante nem às possíveis motivações.

O CASO

Segundo a Promotoria, a morte de PC foi investigada como "queima de arquivo", pois ele era acusado de sonegação de impostos e enriquecimento ilícito e poderia revelar outros envolvidos.

O promotor Marcos Mousinho diz que a tese de que Suzana havia matado PC e depois se suicidado foi descartada pelos peritos.

O Ministério Público afirma que o caso foi um crime de mando, mas nunca chegou a uma conclusão sobre o mandante.

O advogado dos ex-seguranças, José Fragoso Cavalcanti, diz que provará no júri que Suzana matou PC Farias e se matou. Cavalcanti também defendeu Augusto Farias. (DANIEL CARVALHO)


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