Folha de S. Paulo


Projeto sobre 'cura gay' deve ser debatido na Câmara nesta semana

A apreciação na Câmara do projeto que trata da "cura gay" deve ocorrer na próxima reunião do grupo, marcada para quarta-feira (8).

A expectativa em torno da votação de um projeto que autoriza o tratamento psicológico ou a terapia para alterar a orientação sexual de gays reacendeu as críticas à Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.

Feliciano defende discussão de projeto que legaliza a 'cura gay'

Desde que o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) assumiu a coordenação dos trabalhos do grupo, manifestantes contrários à sua escolha para o cargo organizaram vários protestos e conseguiram cancelar algumas agendas de trabalho da comissão. Agora, a mesma comissão se prepara para decidir sobre um dos temas mais polêmicos envolvendo homossexuais.

O texto do projeto sobre a "cura gay" propõe a suspensão da resolução do Conselho Federal de Psicologia que proíbe a participação de profissionais da área de terapia para alterar a orientação sexual e de atribuir caráter patológico à homossexualidade. Há quase 30 anos a homossexualidade foi excluída da Classificação Internacional das Doenças.

Apesar da polêmica, o relator da proposta, deputado Anderson Ferreira (PR-PE), que apresentou parecer favorável ao projeto, garantiu que não vai mudar sua posição sobre a matéria. "Só estou tentando ajustar o desajuste que ele [Conselho Federal de Psicologia] tentou fazer por meio dessa resolução. Todo ser humano tem direito a procurar ajuda e tentar entender um conflito interno", disse.

Segundo o parlamentar, a homossexualidade está relacionada a uma questão comportamental. "Em nenhum momento, disse que pode ser tratado como uma doença, apenas cito que é algo comportamental e se é comportamental você pode querer uma ajuda. Por que o conselho impede ajuda para ele tentar entender o comportamento que está tendo naquele momento?", acrescentou.

"Em nenhum momento a resolução [do conselho] cria obstáculos ao exercício profissional, mas oferece indicadores e situa a prática profissional em contextos éticos e tecnicamente qualificados", rebateu Clara Goldman, vice-presidente do Conselho Federal de Psicologia. Para ela, o projeto em tramitação na Câmara fere um marco na defesa dos direitos humanos. A livre orientação sexual é um dispositivo reconhecido internacionalmente como promotor da garantia de direitos.

"A Opas [Organização Pan-Americana da Saúde] tem posições claras sobre as terapias de cura, chamadas de terapias de reversão, que não têm fundamento do ponto de vista científico e são eticamente inaceitáveis. Se estamos lutando por uma sociedade livre de ódio, violência, preconceito, como retroceder a um patamar que o mundo já reconheceu como equivocado, que é a patologização (transformação em doença) da homossexualidade?", acrescentou.

Depois da apreciação e votação na Comissão de Direitos Humanos, o projeto da "cura gay" ainda será analisado na Comissão de Seguridade Social e Família e na Comissão de Constituição e Justiça.

Para a deputada Érika Kokay (PT-DF), que acredita que existe uma posição clara e já definida pela aprovação do projeto na Comissão dos Direitos Humanos, a matéria não deve ser aprovada em outras comissões.

"O que os obscurantistas da Câmara querem é [que a homossexualidade] seja considerada uma doença e possibilitar que o profissional possa discriminar. Essa posição da Comissão de Direitos Humanos, tenho certeza, não será referendada em outras comissões", disse. "Nunca houve qualquer nível de cerceamento a qualquer psicólogo de atender uma pessoa em sofrimento", acrescentou a parlamentar.


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