Folha de S. Paulo


Na TV, Dilma diz que combate à inflação é compromisso 'mais do que óbvio'

A presidente Dilma Rousseff afirmou na noite desta quarta-feira (1º), em pronunciamento em cadeia nacional de TV, ser "mais do que óbvio" que seu governo está comprometido com o controle da inflação.

A declaração, no feriado do Dia do Trabalho, ocorre três semanas depois de o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgar que a inflação acumulada na gestão Dilma ultrapassou o teto da meta estabelecida pela equipe econômica -- registrou alta de 6,59%.

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A meta do governo, um dos pilares da política econômica brasileira, é de 4,5% de inflação ao ano, com margem de tolerância de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

"Este governo vai continuar sua luta firme pela redução de impostos e pela diminuição dos custos para o produtor e consumidor, mesmo que tenha que enfrentar interesses poderosos. É mais do que óbvio que um governo que age assim e uma presidenta que pensa desta maneira não vão descuidar nunca do controle da inflação", discursou Dilma.

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Segundo a presidente, "esta é uma luta constante, imutável, permanente". Dilma também afirmou que "nada ameaça" as conquistas dos trabalhadores, como aumentos reais de salário e crescimento do poder de compra.

"Não abandonaremos jamais os pilares da nossa política econômica, que tem por base o crescimento sustentado e a estabilidade", disse.

A pressão inflacionária tem sido explorada politicamente pelos adversários da presidente, já com vistas à sucessão presidencial, ano que vem. O tema foi abordado também hoje pelo pré-candidato tucano ao Planalto, o senador Aécio Neves (MG), que fez críticas à gestão da petista nesse aspecto.

EDUCAÇÃO

O tema da inflação, contudo, foi tratado de forma breve por Dilma no pronunciamento. A palavra só foi citada uma única vez.

O tópico principal foi a educação, que ocupou quase metade do pronunciamento. O tema ganha potencial para abrir uma nova frente de disputa política com seu provável adversário na campanha presidencial de 2014, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).

Isso porque, na terça-feira, o governador conseguiu "furar" Dilma justamente no único anúncio de seu pronunciamento, gravado dias antes: o envio ao Congresso de uma "nova proposta" para que 100% das receitas dos royalties da exploração de petróleo sejam investidos em educação por Estados e municípios.

A bandeira é antiga, mas ainda não teve sucesso. No fim de 2012, uma proposta nesse sentido, patrocinada pelo Palácio do Planalto, acabou sendo derrotada no Congresso.

No entanto, a Assembleia Legislativa de Pernambuco, com o patrocínio político direto de Eduardo Campos, aprovou proposta semelhante, de efeito local, e que agora apenas precisa ser sancionada pelo governador.

No discurso de hoje, a presidente fez um apelo aos parlamentares, para que aprovem essa "nova proposta", que não foi detalhada pela presidente nem pelos seus assessores palacianos.

"É importante que o Congresso Nacional aprove nossa proposta de destinar os recursos do petróleo para a educação. Peço a vocês que incentivem o seu deputado e o seu senador para que eles apoiem essa iniciativa", disse.

A presidente, que está na metade final de seu mandato, chegou, informalmente, a lançar um novo slogan de gestão: "Brasil, pátria educadora".

"Poderemos gritar, do fundo do nosso coração: Brasil, pátria educadora!", afirmou a presidente, encerrando o discurso.

Dilma também falou sobre o programa Ciência sem Fronteiras, que dá bolsas para universitários brasileiros estudarem no exterior. Segundo a presidente, "41 mil estudantes brasileiros já tiveram bolsas aprovadas para estudar nas melhores universidades do mundo".

Na verdade, como a Folha revelou em janeiro, só 12% dos estudantes do programa vão para universidades de primeira linha.

A Folha também revelou, no mês passado, que foram computados no Ciência sem Fronteiras bolsistas regulares da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), órgão de incentivo à pesquisa. O governo nega ter maquiado os dados.

Ela também fez uma referência indireta ao slogan, igualmente informal, de Eduardo Campos nas últimas semanas, o de que o "Brasil pode fazer mais". O slogan já havia sido apropriado pela presidente na semana passada, em inserção política do PT em rádio e televisão. Hoje, no pronunciamento, a expressão voltou à tona.

"Não tenham dúvida de que o Brasil, com a força de vocês, pode e vai crescer mais", disse a presidente.


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