Folha de S. Paulo


Para Gurgel, depoimento de Valério 'está longe de ser detalhadíssimo'

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou nesta quinta-feira (25) que o depoimento dado pelo empresário Marcos Valério sobre o mensalão em setembro "está longe de ser detalhadíssimo".

"A partir dele, caberá às instâncias competentes [atuarem]. Isso está tramitando nas procuradorias da República de primeiro grau, já não há motivo para atuação do procurador-geral sem surgir pessoas com prerrogativa de foro", afirmou.

Valério depõe em inquérito que investiga Lula no mensalão
PF instaura inquérito para apurar envolvimento de Lula com mensalão
Saiba quais são as penas de cada réu no julgamento do mensalão

Marcelo Prates - 2.dez.2011/Hoje em Dia/Folhapress
Marcos Valério, quando foi preso em dezembro de 2011
Marcos Valério, quando foi preso em dezembro de 2011

Gurgel explicou novamente que o depoimento aconteceu no contexto do julgamento do [mensalão], "diante de um pedido feito pela defesa de Marcos Valério à presidência do STF (Supremo Tribunal Federal)".

Segundo Gurgel, Valério "imaginava que [o depoimento] poderia ainda ser utilizado no julgamento e render-lhe benefícios na própria ação penal". "Eu desfiz prontamente essas duas perspectivas, dizendo que não haveria possibilidade porque o julgamento já que se iniciara", disse. No julgamento do mensalão, Valério foi condenado pelo STF a 40 anos de prisão.

Por tratar de denúncias distintas, o depoimento de Valério gerou a abertura de seis procedimentos preliminares na Procuradoria da República no Distrito Federal, além de outros dois terem sido anexados a inquéritos em andamento.

Um dos procedimentos já virou inquérito na Polícia Federal. Ele investiga a afirmação de Valério sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo Valério, Lula teria, junto com o ex-ministro Antonio Palocci, negociado com a Portugal Telecom o repasse de US$ 7 milhões para o PT.

Ontem, Marcos Valério prestou novo depoimento sobre esse assunto. A delegada responsável pelo inquérito, Andréa Pinho, considerou "esclarecedor" o novo depoimento do empresário.

REELEIÇÃO

Gurgel, que participava de seminário sobre acesso à informação no Ministério Público Federal, também criticou a reeleição no Brasil. "Eu atuo como procurador-geral eleitoral e a reeleição é uma fonte de problemas muito grandes na área eleitoral", afirmou.

"Essa é uma decisão política que compete ao Poder Legislativo", afirmou. "Mas um presidente ou um governador que concorre à eleição, no exercício no cargo, traz um desequilíbrio. É motivo de grande preocupação para a Justiça Eleitoral", explicou.

CONDENADOS

O procurador-geral também comentou a atuação de condenados do mensalão no Congresso, caso dos deputados José Genoino e João Paulo Cunha, do PT. "Eles estão no exercício do mandato parlamentar, mas na visão da Procuradoria-Geral da República não deveriam estar", afirmou.

"Logo que o julgamento do mensalão acabou, pedi que o STF determinasse a imediata execução do que foi julgado, isso incluiria a impossibilidade de exercício do mandato parlamentar por pessoas condenadas naquele julgamento. Mas esse pedido não foi deferido e hoje temos essa realidade", disse.


Endereço da página:

Links no texto: