Folha de S. Paulo


Índios invadem plenário da Câmara e interrompem sessão

Cerca de cem índios invadiram na tarde desta terça-feira (16) o plenário da Câmara dos Deputados, o que provocou a suspensão da sessão que discutia a votação de uma medida provisória.

Eles ficaram no local por volta de 50 minutos e só saíram após o presidente da Casa, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), convidar lideranças para uma reunião sobre a proposta que trata de demarcações de reservas indígenas.

A ação dos índios surpreendeu os deputados. Alguns permaneceram no plenário, mas outros saíram do local correndo, incluindo a ex-senadora Marina Silva, que estava na Câmara no momento da invasão discutindo um projeto de seu interesse. (veja no vídeo abaixo)

Vídeo

Índios dizem que só saem da Câmara se PEC sobre demarcações for extinta

No momento da invasão, os índios começaram a dançar e gritar palavras de ordem. Alguns estavam com tacapes nas mãos. A Polícia Legislativa tentou conter o grupo, mas não conseguiu.

Mais cedo, centenas de indígenas de 73 etnias diferente ocupavam o plenário da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania). Eles participaram da reunião da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Indígenas.

Com chocalhos, tambores e lanças, os índios disseram que só deixarão o Congresso quando Alves assumir o compromisso de cancelar a PEC 215, que transfere a competência das demarcações que hoje é feita pela Funai (Fundação Nacional do Índio), para o Congresso Nacional.

"Se o presidente não vier, nós vamos dormir aqui", afirmaram as lideranças antes de Alves convidá-los para a reunião. O presidente da Frente Parlamentar Indígena, Padro Ton (PT-RO), tentava acalmar os ânimos. Lideranças indígenas da região do Xingu, Tapajós, Teles Pires e da Raposa Serra do Sol estão entre as centenas de manifestantes.

Os índios começaram a chegar na Câmara pela manhã. Eles tentam derrubar a criação da Comissão Especial instalada para discutir a PEC. Os índios temem que, caso a decisão sobre demarcações seja do Congresso, a bancada ruralista possa influenciar.

NEGOCIAÇÃO

O presidente da Câmara, que mais cedo já havia cedido aos índios e prometido não indicar parlamentares para a comissão especial, determinou que a sessão plenária fosse encerrada e seguiu para seu gabinete. Lá, receberia no início da noite representantes dos indígenas.

"Quero dizer que o respeito a este plenário é inegociável. Este plenário aqui é o espaço mais democrático que o povo brasileiro pode encontrar", discursou. "É com esta autoridade inegável deste plenário (...) que eu quero agora, de forma muito séria, mas também muito serena, muito afirmativa e consciente, não é convocar, eu quero convidar as lideranças indígenas para, exatamente num prazo de 10 minutos, respeitosamente, esvaziar este plenário para reiniciarmos o diálogo para que possamos encontrar uma alternativa que venha ao encontro dos senhores."

Após o discurso do presidente da Câmara, os índios deixaram o local. A ocupação durou cerca de 50 minutos. Durante a manifestação, alguns indígenas sentaram nas cadeiras dos deputados e usaram os tablets que ficam instalados nas bancadas dos parlamentares.

A ex-ministra Marina Silva, que estava na Câmara no momento da invasão, também auxiliou nas negociações.

Representantes dos manifestantes queixam-se que a derrubada da PEC não fora tratado em reunião de líderes partidários na tarde desta terça. Sem resposta da cúpula da Casa, resolveram entrar no plenário. Segundo assessores da Câmara, eles estavam armados com tacapes (espécie de bastão), cuja entrada nas dependências do Congresso é proibida. Houve, de acordo com seguranças, acordo para que as armas não fossem retiradas.

Os índios, além de formar rodas para fazer danças típicas, ergueram faixas com os dizeres "A demarcação imediata de nossos territórios é elemento fundamental para nossa sobrevivência".

Eles agora vão disucutir com o presidente da Câmara a tramitação da PEC que trata da demarcação de terras indígenas.

Com Valor


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