Folha de S. Paulo


Índios dizem que só saem da Câmara se PEC sobre demarcações for extinta

Mais de 600 índios de 73 etnias diferente ocupam nesta terça-feira (16) o plenário da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania) da Câmara. Eles participaram da reunião da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Indígenas que ocorre na Casa.

Com chocalhos, tambores e lanças, os índios dizem que só deixarão o Congresso quando o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), assumir o compromisso de cancelar a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 215, que transfere a competência das demarcações que hoje é feita pela Funai (Fundação Nacional do Índio), para o Congresso Nacional.

"Se o presidente não vier, nós vamos dormir aqui", dizem as lideranças. O presidente da Frente Parlamentar Indígena, Padro Ton (PT-RO), tenta acalmar os ânimos.

Lideranças indígenas da região do Xingu, Tapajós, Teles Pires e da Raposa Serra do Sol estão entre as centenas de manifestantes. A ida de Eduardo Alves até o encontro foi confirmada pela Câmara, mas ainda não há previsão de sua chegada.

Os protestos também se voltaram contra a presença de policiais da Força Nacional em terras indígenas. Hoje, o TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), em Brasília, determinou a suspensão da Operação Tapajós, operação militar e policial ocorrida na região da Terra Indígena Munduruku, onde está planejada a usina hidrelétrica São Luís do Tapajós, no oeste do Pará.

O Ministério Público Federal, que pediu ao TRF-1 a suspensão, foi comunicado da decisão nesta terça-feira, 16 de abril. O contingente da Operação Tapajós está na área desde 25 de março e conta com integrantes da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Força Nacional de Segurança Pública e Forças Armadas.

Para o tribunal, antes da realização de estudos que demandem o ingresso de técnicos em terras indígenas e de populações tradicionais, deve haver consulta livre, prévia e informada, nos moldes do art. 6º da Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho).

Segundo o recurso da Procuradoria concedido na íntegra pelo TRF-1, o processo de consulta deve ser facultado não apenas aos povos indígenas afetados, mas também às populações tradicionais atingidas, nos termos do art. 1º da Convenção 169 da OIT, evitando-se a confusão entre o procedimento de consulta estabelecida na convenção com a oitiva estabelecida na Constituição Federal para o Congresso Nacional.

O TRF decidiu, também, declarar inválidos quaisquer atos de pretensa consulta realizados no contexto da Operação Tapajós. Foi determinado, ainda, que, após a realização da consulta, sejam elaboradas tanto a Avaliação Ambiental Integrada quanto a Avaliação Ambiental Estratégica dos impactos decorrentes da instalação de empreendimentos hidrelétricos em toda a bacia do Tapajós.

Alan Marques/Folhapress
Índios de 73 etnias participam de reunião na Câmara dos Deputados para debater projetos sobre demarcação de áreas de reserva indígena
Índios de 73 etnias participam de reunião na Câmara dos Deputados para debater projetos sobre demarcação de áreas de reserva

Endereço da página:

Links no texto: