Folha de S. Paulo


MST ocupa Ministério da Fazenda em Porto Alegre

Manifestantes sem-terra fazem protestos nesta terça-feira (16) em prédios públicos de Porto Alegre. Os edifícios do Ministério da Fazenda e do Desenvolvimento Agrário estão com os pátios tomados por centenas de integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e Via Campesina, entre outras entidades, que vieram do interior gaúcho.

A mobilização faz parte da jornada do "Abril Vermelho", que lembra o massacre de sem-terra ocorrido no Pará em abril de 1996 em Eldorado dos Carajás. Os manifestantes querem pressionar o governo federal a acelerar o processo da reforma agrária.

Campos desapropria fazendas em Pernambuco após invasões de terra
Membros do MST deixam sede de órgão do governo do DF
Dilma é a que menos desapropria desde Collor

Ueslei Marcelino - 17.abr.2012/Reuters
Sem terra durante protesto no ano passado pela morte de 19 pessoas durante o massacre de Eldorado dos Carajás, em 1996
Sem terra durante protesto no ano passado pela morte de 19 pessoas durante o massacre de Eldorado dos Carajás (PA)

A entrada da regional do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) foi fechada e, segundo o órgão, os funcionários estão impedidos de entrar no local desde o meio da manhã. Os manifestantes trouxeram colchões e mantimentos e pretendem acampar nos pátios dos prédios, que ficam na região central da capital gaúcha.

Integrantes do Levante Popular da Juventude, grupo que organiza protestos por punição a crimes da ditadura militar, também participam da ação.

A ocupação do Ministério da Fazenda ocorreu às 6h da manhã, por isso nenhum funcionário conseguiu entrar no prédio. Segundo Pedro Aguiar Junior, supervisor de segurança, apenas vigias estão no interior do edifício. Os integrantes do MST estão no pátio do prédio.

O MST afirma em nota que os manifestantes permanecerão no local acampados por tempo indeterminado.

A Folha revelou em janeiro que o governo Dilma é o que menos desapropriou imóveis rurais para fazer reforma agrária nos últimos 20 anos. Na primeira metade do mandato, 86 unidades foram destinadas a assentamentos.

Comparado ao mesmo período das administrações anteriores desde o governo Sarney (1985-90), o número supera só o de Fernando Collor (1990-92), que desapropriou 28 imóveis em 30 meses. Dilma disse que vai acelerar a reforma agrária "com terra de qualidade".

REIVINDICAÇÃO

Além de pressionar pela reforma agrária, os manifestantes pedem a criação de uma política nacional para o campo que proporcione mais acesso à educação, à saúde, à moradia, ao saneamento básico, à cultura e ao lazer.

Outras reivindicações são a renegociação das dívidas dos pequenos agricultores e a "desbancarização" do crédito agrícola. Os trabalhadores rurais também querem a compensação ambiental pelo governo aos camponeses pela preservação da natureza.

Em nota, Cedenir de Oliveira, da coordenação nacional do MST, afirma que é necessário uma mudança no atual modelo de agricultura predominante, controlado pelas grandes empresas do agronegócio. "A consequência disto é aumento frequente nos preços dos alimentos, a contaminação por agrotóxicos e a existência de mais de um bilhão de pessoas que passam fome no mundo."

ELDORADO DOS CARAJÁS

O coordenador nacional do MST, João Pedro Stedile, afirmou ontem (15) que assentados bloquearão as estradas do país por 19 minutos na próxima quarta-feira (17), em memória aos 19 mortos no massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido há 17 anos.

Stedile criticou o governo federal pela lentidão na desapropriação de terras para a reforma agrária. Ele eximiu a presidente Dilma Rousseff de culpa e atribuiu a "puxa-sacos que a cerca" a redução no número de famílias assentadas.

"Provavelmente vamos dar a taça para a Dilma do pior governo desde a ditadura, que menos assentou gente. Acredito que ela está sendo enganada por um bando de puxa-sacos que a cerca, que ficam utilizando argumentos pró-agronegócio, dizendo que a reforma agrária é cara" disse o coordenador nacional do MST.

O líder do MST disse que há ainda fatores econômicos que impedem a reforma agrária. O principal deles é a compra de terras por multinacionais, disse ele.

"Há também uma conjuntura nacional em que, na agricultura, em função da crise do capitalismo internacional, entrou muito dinheiro de capital estrangeiros. Vieram para o Brasil investir em terras, usinas, etanol. São eles os responsáveis pela especulação agrícola."

Ele atribuiu a essa entrada do capital estrangeiro a inflação nos produtos agrícolas registrado nas últimas semanas.

"A tal da inflação agrícola não tem nada a ver com custo de produção. A inflação agrícola que existe no Brasil é fruto da especulação que os grandes capitalistas estão fazendo com as commodities da agricultura."


Endereço da página:

Links no texto: