Folha de S. Paulo


Favorito no Senado, Renan diz que 'nova ordem é transparência absoluta'

Favorito na disputa para presidência do Senado, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), disse à Folha que, se eleito, "a nova ordem é transparência absoluta e nenhum espaço para a dúvida".

Leia abaixo a íntegra da entrevista concedida à Folha.

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Por que os senadores devem votar no senhor para a presidência do Senado?

O voto, livre, depende da convicção de cada um dos senadores. Entre 1989 e 1993, 80% das leis sancionadas eram originadas no Executivo. Quando Presidente, entres outras coisas como o fim do pagamento da convocação extraordinária e a redução das férias, mudamos esse panorama. Em 2005, 53% das leis foram de parlamentares, em 2006, 56% delas e, em 2007, 63% das leis brasileiras nasceram no Congresso Nacional.

Quais são os seus projetos para o Senado?

Além dos assuntos federativos (FPE - Fundo de Participação dos Estados, dívidas dos Estados, Royalties e ICMS), aqueles que estão na ordem do dia, como vetos e Medidas Provisórias. Além deles, vamos priorizar quatro vetores para aproximar o Senado ainda mais da sociedade:

1. Cortes de gastos, com fusões, extinções e enxugamento de órgãos;
2. Uma agenda de projetos para melhorar o ambiente de investimentos, acabando com burocracia, regulamentando diversos setores e acabando com os gargalos tornando o Brasil mais previsível e, portanto, mais fácil;
3. Criar, sem custos, apenas com remanejamentos internos, a secretaria de transparência para coordenar as demandas da Lei de Acesso à informação. Seremos o mais transparente dos poderes;
4. uma barreira jurídica contra qualquer iniciativa com pretensões de restringir a liberdade de informação.

Pretende fazer mudanças na estrutura administrativa da Casa, ampliar ou enxugar custos?

Vamos aprofundar o enxugamento, eliminar no que pudermos as redundâncias e tornar os serviços ainda mais ágeis e eficientes. Neste planejamento estratégico teremos prazos e metas serem cumpridas, com parâmetros para que a sociedade acompanhe e cobre as providências.

O senhor já defendeu a extinção do conselho de ética do Senado por considerar que a Casa não deve julgar seus pares. Fará alguma iniciativa nesse sentido se ocupar a presidência?

Absolutamente. Não farei nada neste sentido. Acho legítimo todos os canais de investigação e apuração dos fatos. A nova ordem é transparência absoluta e nenhum espaço para a dúvida.

O senhor irá se relacionar com o Palácio do Planalto como aliado ou de forma independente?

O fato de integrar um partido da base de apoio ao governo não autoriza o raciocínio da submissão. Minhas gestões anteriores demonstram a independência dos poderes e o compartilhamento das decisões, inclusive com a oposição, que é indispensável a qualquer democracia. Tenho a dimensão da separação dos poderes e ser presidente está além da questão politico-partidária. É institucional.

Dizem que a Dilma não gosta do senhor. Qual sua relação com a presidente?

Mantenho com a Presidente a melhor das relações, pessoais e políticas. Tenho muito honra de estar podendo contribuir, nos últimos anos, para transformar os índices socioeconômicos do Brasil, seja como autor de algumas propostas, como relator ou simples senador. Temos muitas convergências com relação ao desenvolvimento do País. Gosto muito da Presidente e tenho profunda admiração, que não é hoje e, espero, seja para sempre.

Por que o senhor quer voltar à presidência do Senado?

Não postulei. Já fui presidente duas vezes e, como líder, me cabia trabalhar a unidade. Nunca coloquei o interesse pessoal acima do partido e da Casa. A bancada, por unanimidade dos presentes, me escolheu e eu não vou me esquivar do desafio. Até então não poderia me manifestar sobre propostas e programas. O PMDB conquistou nas urnas o direito de indicar o Presidente do Senado Federal. Minha tarefa, se assim os senadores concordarem, é robustecer o papel do Congresso, aprofundar as reformas internas, contribuir para facilitar os investimentos no Brasil, nos tornarmos uma referência em transparência e proteger nosso modelo democrático contra anomalias exógenas.

O senhor se sente confortável em retornar à presidência do Senado como denunciado [Renan foi denunciado pelo Ministério Público por ter supostamente apresentado notas fiscais frias na tentativa de negar que teve despesas pessoais pagas por um lobista ]?

A iniciativa é, no mínimo muito estranha, já que foi feita há uma semana da eleição, com a corte suprema em recesso, e, sabe-se agora, para beneficiar um candidato a presidente do Senado da própria corporação. Ela tem origem em uma investigação que, pessoalmente, protocolei no Ministério Público em Junho de 2007. Sou o maior interessado no esclarecimento cabal e definitivo daqueles episódios, tanto que entreguei, voluntariamente, todos os meus sigilos. Se existem 63 volumes todos foram entregues, espontaneamente, por mim.


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