Folha de S. Paulo


Existe, sim, amor em SP, diz leitora do Mato Grosso do Sul

Eduardo Anizelli/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 17-08-2012, 00h21: Fachada do Theatro Municipal que tem iluminacao naturalista. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, COTIDIANO) ***EXCLUSIVO FOLHA***
Fachada do Theatro Municipal de São Paulo, na região central da capital paulista

Quando eu era criança, meu desejo era morar em São Paulo. Não conhecia a cidade, tampouco a origem do meu desejo. Essa explicação segue a mesma lógica interna, portanto, inconsciente, de eu sempre escolher ser a Cássia Eller nas brincadeiras infantis, em que cada amiguinha era uma mulher famosa. Psicanalistas, interpretem isso.

Na adolescência me meti com o teatro e ouvi dizer que em São Paulo tinha tudo sobre arte. Em São Paulo tem o Municipal –e esse argumento bastaria.

Fiquei sabendo que São Paulo não para. Ou não para porque não tem lugar para estacionar.

Na semana do aniversário de 461 anos eu estive em São Paulo, realizando (em parte) meu desejo infantil. Constatei que tudo acontece por aquelas bandas.

Em São Paulo garoa mesmo antes mesmo de o avião aterrissar. Tem Bukowski em tudo que é banca de revista. Tem também o dono da banca que dá chocolate de brinde. Tem a rua Avanhandava, cheia de luzinhas, que dá a impressão de que tudo foi feito à mão e com amor. Tem a Famiglia Mancini com o melhor filé à parmegiana que eu já comi, e gente conversando em outro idioma na mesa ao lado. Deve ser isso o que chamam de cosmopolitismo.

Tem taxista invejavelmente politizado que diz que "em São Paulo tudo é superlativo. Tudo é muito, sabe? Muito trânsito, muita riqueza, muita gente." Em São Paulo tem a livraria Cultura -a qual poderia ser o meu lar. O meu, e de muita gente que eu conheço. Tem o hambúrguer grelhado de 200 gramas do America. Pets passeando e vendo vitrines no shopping. Tem protesto na Paulista. Tem também o pessoal precavido do hotel, que tem um alicate especial para cortar cadeados de hóspedes que trancam a chave da mala, dentro da mala. Mas esta não sou eu. Esta é a Cristiane.

Tem o Paris 6, tem o MASP, tem a Paulista, tem os grafites, tem as ciclovias –amadas e odiadas–, tem botecos espalhados por todo lado –espalhados e cheios. É humanamente impossível ser antissocial em São Paulo. Tem Starbucks e tem a liberdade... Liberdade, esta, não só em nome de bairro.

Em São Paulo senti liberdade de ser, estar, ir e vir –esses verbos que nos dão a condição mínima para se viver.

São Paulo cria na gente um sentimento de depressão. Depressão pós-São Paulo.


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