Folha de S. Paulo


Leitor critica uso de concreto na pavimentação do Rodoanel

Prezado senhor secretário de Transportes do Estado de São Paulo,

Depois de algum tempo, utilizei recentemente o Rodoanel Mario Covas, no trecho compreendido entre a rodovia Régis Bittencourt e a rodovia dos Bandeirantes, dirigindo-me de São Paulo a Jundiaí. Que lástima o estado do piso. Quase todo trincado, quebrado, esfarelado e até apresentando pequenos buracos e desníveis.

Na qualidade de jundiaiense, nascido em 1941, presenciei a construção do primeiro trecho da via Anhanguera, que ligava São Paulo a Jundiaí, na década de 1950. As estradas rodoviárias, até então, eram "de terra".

Eduardo Knapp/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 31-08-2010. Homens trabalham na pista do Novo trecho sul do Rodoanel (altura do km 46) que a partir de quinta feira devera receber maior movimentacoes de caminhoes devido a proibicao de circlulacao destes na av dos Bandeirantes e Marginal Pinheiros (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress,COTIDIANO)

O asfaltamento deste pequeno trecho da Anhanguera foi contratado com base em concreto (cimento), fundindo-se placas quadradas no próprio local da pista de aproximadamente 3 m x 3 m. A experiência se mostrou desastrosa, pois o piso logo apresentou trincas, quebras, esfarelamentos e buracos, não sendo possível o seu conserto ou reparo, pois o cimento não apresentava condições de emenda ou "liga". Bem que a manutenção da estrada tentava, mas o resultado era sofrível. A aparente "solução" era trocar a placa defeituosa inteira, com todo o inconveniente da operação em termos de custo e de interrupção da rodovia.

Apesar disso, o problema não era solucionado, pois as imperfeições citadas se repetiam tempos depois. Os veículos é que sofriam com o piso todo irregular. A solução definitiva para o piso da rodovia Anhanguera foi encontrada com sua cobertura asfáltica em betume* (piche), de cor escurecida, processo tradicional aplicado aos demais trechos das estradas rodoviárias do Estado de São Paulo. Na ampliação da rede rodoviária estadual, depois dessa infeliz experiência, o piso de concreto cimentado foi acertadamente desprezado.

Quando o primeiro trecho do Rodoanel foi anunciado, li que a solução encontrada pelas autoridades era apresentar um piso de cimento ou concreto. Estranhei a informação, mas considerei que seria algo aperfeiçoado, que evitasse a ocorrência dos mesmos problemas apresentados no passado com a rodovia Anhanguera (e mesmo com a rodovia Anchieta).

A realidade mostrou, entretanto, que, apesar de não apresentar problemas tão graves como os de 1950, o piso do Rodoanel repete os mesmos defeitos, em escala menor, mas não menos condenáveis e reprováveis. Inclusive com um grande reparo promovido há alguns anos, que removeu pedaços inteiros do piso, refazendo grande parte do trabalho inicial. Tudo inútil.

O que se constata, agora, é que trechos da pista foram ou estão sendo capeados com o tradicional asfalto de betume, com vantagens, mas mesmo assim ainda repercutindo o problema da base, com rachaduras projetadas do cimentado que ficou abaixo. Que lástima. Nem para base do asfaltamento de betume esse piso de cimento se presta.

Após atingir o cruzamento com a rodovia Anhanguera, deixei o Rodoanel e prossegui viagem a Jundiaí por essa antiga e tradicional romântica rodovia, que apresenta piso impecável de betume, uniforme, bem compactado, sem defeitos, bem distante dos problemas do piso do Rodoanel. Incomparável.

Esse ralo do dinheiro público deveria ser objeto de investigação e responsabilização dos que tiveram a infeliz ideia de utilizar tipo de asfalto tão inadequado para o piso do Rodoanel. Quem pagará por isso? Pois o piso do Rodoanel deverá ser refeito, para atingir o nível desejável que se encontra em outras rodovias do Estado de São Paulo.

*Asfalto é um betume espesso, de material aglutinante escuro e reluzente, de estrutura sólida, constituído de misturas complexas de hidrocarbonetos não voláteis de elevada massa molecular, além de substâncias minerais, resíduo da destilação a vácuo do petróleo bruto.


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